O mundo hoje em 1864 semelhava
perfeito ou ao menos com sua imperfeição costumeira [os galos a cantar por
volta das cinco, o merceeiro a roubar no peso, o telégrafo trazendo notícias de
bocejos] quando [sem nenhuma razão aparente ou desaparente] setenta jovens degolaram
sete soldados e a promessa de vingança do Emir apenas atiçou que sete mil,
depois [dizem não sem algum exagero] sete milhões invadissem o bazar, os becos
e os haréns dispostos a consertar o mundo e as calçadas sem alinhamento.
Em um dos momentos mais patéticos
da história de Amhitar [e também nos últimos momentos da vida do Emir] os
jovens revoltosos [derrubadas as portas de bronze do palácio, tendo enviado novecentos
guardas para repousar no reino de Alá] berraram que os comerciantes roubavam,
os fiscais propinavam, os soldados violentavam e a eles [o resto] sobrava o
trabalho e o encolhimento. O Emir [miado de gatinho] gaguejou: não sempre foi assim? Porque essa raiva
agora?...
Quatro dias depois o mundo voltou
a semelhar perfeito ou ao menos com a imperfeição de costume.
Esta Revolta não foi por ninguém
adotada – os marxistas depois a consideraram burguesa, os conservadores disseram
ser apenas obra de quebra-quebras, e o filho do Emir, com ânimo de perdão [e
com medo de nova revolta caso vingasse o pai] resolveu passar uma borracha. Tão
inesperada foi que ganhou o anódino nome de Revolução
do Meio do Ano, à falta de melhor rótulo.