Um pergaminho [previsivelmente]
antes perdido do Monge Gelasiminius, reforçado por um par de menções um tanto
vagas dos relatos de viagem do andarilho Dasha Ulugbek, meio capítulo do Livro dos insuportáveis Paradoxos do
inevitável cronista medieval Abdul Al-Wazahari, reforçado por uma palestra de
1933 pelo geógrafo Serguei Kovinev, precedido por um entusiasmado ensaio do
historiador Java Kharlilah, nada disso convenceu o público da existência do estranhíssimo dialeto Abbrokh até que o Subcomitê de Propaganda e Agitação [em decisão não
isenta de arbitrariedade] declarou em 1951 ser hoje o dia de recordá-lo.
Tal dialeto não pertencia ao Indo-europeu
nem a nenhum outro ramo linguístico. Suas palavras não o eram, mas gestos: mãos
estendidas significavam quero,
apontar a garganta significava comida,
e uma grande volta com o pé queria dizer O
Mundo. Quanto aos objetos concretos, eles não eram nomeados mas utilizados.
Então apontar para a própria garganta e depois para um pão branco tinha óbvio significado.
A inverossimilhança de uma língua
de gestos e objetos explica a doce descrença dos amhitarianos em tal tradição,
apesar de tão ilustres respaldos escritos. O próprio decreto do Subcomitê não
foi muito respeitado – até que a Jaghon
[a polícia política amhitariana] interrogou um par de recalcitrantes. A partir
daí o povo acreditou [ao menos aparentemente] em tal [estranhíssima] solução
linguística.