As greves e as linhas enferrujadas do telégrafo fizeram com
que a notícia da Revolução Bolchevique só chegasse a Amhitar no dia 14 do primeiro
mês de 1918 (31 de dezembro dos Ortodoxos, 8 de Rabi dos Muçulmanos, 15 de Myhumirxx
da Seita Khazyr). Por três dias a perplexidade (pois a distância fazia o poder do
Czar parecer invencível) dominou, e depois o medo. O Palácio das Dezoito e Meia
portas amanheceu abandonado pela Guarda Negra, que, segundo a piada, amarelou
de medo. E o poder caiu na mão do único que restou.
Gulchik Oygul (dizem em informação apócrifa tatara-tataraneto
da temida Raya Oygul) tivera um microdestaque com a publicação de três opúsculos:
um livro de sonetos louvando o navegador Sayyd Umarkhan; dezenove poemas sobre
as vinte e duas espécies de rosas de Amhitar (sendo três deles secretos) e um surpreendente
folheto sobre a utilidade das cargas de cavalaria em combate. Baixinho e magro,
quando sentou no trono abandonado declarou que sua revolução era mais profunda
que a dos sovietes, e decretou que As
mulheres casadas estão livres para viverem seus amores fora da opressão
matrimonial, e as solteiras não devem dar nenhuma importância à pecha de não-virgens.
Deposto e exilado quarenta horas depois, o governo provisório,
em um gesto conciliador, decretou a data comemorada hoje. Dizem muitos que,
naquelas quarenta horas, Amhitar foi uma verdadeira Gomorra, e o dizem não sem
certa inveja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário