Lera Bakhram não era conhecido, nem mesmo dos astrônomos
hindus da Universidade de Delhi, até que
Oleg Bakhram, o Ministro de Economia Doméstica da breve República Soviética de
Amhitar o transformou em pioneiro da ciência
nacional e decretou em 1924 que hoje deveria ser festejada a publicação de
seu Planisfério Incompleto do Universo,
uns seis séculos antes. [Não se sabe se eram parentes, embora o vaidoso Oleg
assim o quisesse].
Ao contrário das outras astronomias primordiais, o sistema
de Lera Bakhram colocava hereticamente o ser humano nas beiradas de um Universo,
o qual, segundo o astrônomo, era o refugo de outro, que por sua vez era de
outro, e assim por diante, e o número de Universos não era simbólico, tipo três,
sete, noventa e nove ou infinito, mas dez, um número banal. No centro do décimo
ou Universo Central, segundo Lera, não havia uma raça de demônios mas dez
cabanas abandonadas de um povo tão chato que nem valia a pena conhecer. O Planisfério arriscava a teologia quando
afirmava que não havia Inferno, pois o ser humano significava tão pouco que
nenhum deus perderia seu tempo criando lugares para puni-lo.
Com tantos bocejos na sua concepção de mundo, natural que
apenas três Planisférios tenham sobrevivido antes de 1924. Oleg fugiu com o último
dos originais pelo planalto do Pamir nos expurgos de 1936, e há dez versões
diferentes do que aconteceu a ele, todas banais como o sistema astronômico.
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