quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

31 de Janeiro

O Homem que pôs o planeta mui longe


Lera Bakhram não era conhecido, nem mesmo dos astrônomos hindus da Universidade de Delhi,  até que Oleg Bakhram, o Ministro de Economia Doméstica da breve República Soviética de Amhitar o transformou em pioneiro da ciência nacional e decretou em 1924 que hoje deveria ser festejada a publicação de seu Planisfério Incompleto do Universo, uns seis séculos antes. [Não se sabe se eram parentes, embora o vaidoso Oleg assim o quisesse].

Ao contrário das outras astronomias primordiais, o sistema de Lera Bakhram colocava hereticamente o ser humano nas beiradas de um Universo, o qual, segundo o astrônomo, era o refugo de outro, que por sua vez era de outro, e assim por diante, e o número de Universos não era simbólico, tipo três, sete, noventa e nove ou infinito, mas dez, um número banal. No centro do décimo ou Universo Central, segundo Lera, não havia uma raça de demônios mas dez cabanas abandonadas de um povo tão chato que nem valia a pena conhecer. O Planisfério arriscava a teologia quando afirmava que não havia Inferno, pois o ser humano significava tão pouco que nenhum deus perderia seu tempo criando lugares para puni-lo.

Com tantos bocejos na sua concepção de mundo, natural que apenas três Planisférios tenham sobrevivido antes de 1924. Oleg fugiu com o último dos originais pelo planalto do Pamir nos expurgos de 1936, e há dez versões diferentes do que aconteceu a ele, todas banais como o sistema astronômico.

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