Zamira Jamshid entrou nua na
cidade de Takhiatash [dezenove anos, cabelos a caracolar até a cintura] em um
dia que as edições popularescas [mais que as teses acadêmicas] definiram como 8
de abril de 1223. [Trata-se de exagero: o testemunho (espera-se que) insuspeito
do diácono khazyr Al-Otabek, que assistiu
a tudo, afirma que a princesa (olhos negros no horizonte) vestia uma guerreira
saia de escamas de bronze]. Montava um cavalo de crinas negras e sete outras tão
jovens e tão despidas quanto ela a acompanhavam, seguidas pelo exército que adentrava
a cidade conquistada [os seios de nenhuma
no entanto rivalizavam com a firmeza dos da bela Zamira, que ignoravam o movimento
do animal – diz Otabek com entusiasmo pouco condizente a um prelado].
Não se tratava de momento erótico,
nem mesmo de júbilo. Uma seta negra atravessara na véspera o pescoço de seu
marido o príncipe Jamshid o Inolvidável,
no comando do cerco de 33 dias à cidade tomada pelos invasores Turkhmans. Derrotados os inimigos, a viúva
comandou desta forma a entrada triunfal – sendo tanto infinita quanto inútil a
discussão se tal ato fora uma prova de desprezo pelo inimigo ou forma de dizer
que, sem seu amado, nada mais lhe importava. Esse debate interessa menos ainda
aos ghost-writers que entupiram as livrarias
de versões não muito castas de sua vida e que produziram até mesmo um filme, Zamira, A Princesa da Devassidão, de duvidoso compromisso com a verdade
histórica.
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