quarta-feira, 17 de abril de 2013

17 de Abril

A Cidade dos filhos do Deserto

Os profetas não são filhos do deserto. Eles são filhos da cidade – as cidades de beira de deserto – coleções a céu aberto de gente e vielas com esgoto pelo meio. Um inglês baixinho, poliglota e que [dizem] gostava mais de moços que de moças pronunciou esta frase [talvez mais impressionante que real].

Visitava a escavação da cidade sagrada de Dashoguz – sagrada apesar das paredes de lama – em agosto de 1914, meses depois da descoberta no dia de hoje dos pedaços de suas nove muralhas. Apertada entre setenta e sete desertos e um lago [hoje seco mas na época pouco mais que um poço de lama preta], Dashoguz [dizem] gerou quarenta mil profetas.

O método se assemelhava: alguém [tangido pela pobreza ou pelo par de chifres que alguma namorada lhe impunha] fugia desgostoso para o deserto. Lá uma figura [o arcanjo Gabriel, dois djins ou 70.437 xamãs (tal número aparece em duas das histórias)] aparece a ele, transmite-lhe a mensagem de paz e as ameaças de sempre. O profeta volta, convence a uma pequena turba [com o inevitável círculo mais chegado - geralmente doze]. E os poderosos da cidade resolvem dar-lhe um fim – a pedradas, lanças ou cruzes.

A semelhança dos profetas de Dashoguz com certo da romana Palestina não escapou ao tal inglês. Três dias depois a Primeira Guerra Mundial começou e o Imperialismo dos Britânicos o chamou para engendrar um levante. Em Amhitar, ele - Thomas Edward - é conhecido como Lawrence de Amhitar - não da Arábia.

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