A Cidade dos filhos do Deserto
Os profetas não são
filhos do deserto. Eles são filhos da cidade – as cidades de beira de deserto –
coleções a céu aberto de gente e vielas com esgoto pelo meio. Um inglês
baixinho, poliglota e que [dizem] gostava mais de moços que de moças pronunciou
esta frase [talvez mais impressionante que real].
Visitava a escavação da cidade sagrada de Dashoguz – sagrada
apesar das paredes de lama – em agosto de 1914, meses depois da descoberta no
dia de hoje dos pedaços de suas nove muralhas. Apertada entre setenta e sete
desertos e um lago [hoje seco mas na época pouco mais que um poço de lama preta],
Dashoguz [dizem] gerou quarenta mil profetas.
O método se assemelhava: alguém [tangido pela pobreza ou
pelo par de chifres que alguma namorada lhe impunha] fugia desgostoso para o
deserto. Lá uma figura [o arcanjo Gabriel, dois djins ou 70.437 xamãs (tal número
aparece em duas das histórias)] aparece a ele, transmite-lhe a mensagem de paz
e as ameaças de sempre. O profeta volta, convence a uma pequena turba [com o
inevitável círculo mais chegado - geralmente doze]. E os poderosos da cidade resolvem
dar-lhe um fim – a pedradas, lanças ou cruzes.
A semelhança dos profetas de Dashoguz com certo da romana Palestina
não escapou ao tal inglês. Três dias depois a Primeira Guerra Mundial começou e
o Imperialismo dos Britânicos o chamou para engendrar um levante. Em Amhitar,
ele - Thomas Edward - é conhecido como Lawrence
de Amhitar - não da Arábia.
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