domingo, 21 de abril de 2013

21 de Abril

Herói múltiplo


Donyhor al-Temurbek [dizem] morreu 999 vezes e nasceu 1.007. [Esta superávit de vidas não deixou de ocasionar seus bate-bocas teológicos]. O maior dos heróis da história de Amhitar nada tem a ver com reecarnacionismos, nem suas múltiplas e assim chamadas vidas podem ser [che-guevariamente] consideradas manifestações de avatares do proletariado, os quais, sempre vencidos, são substituídos por outros até a final vitória.

Documentos [desde pedaços de argila até modernas certidões de nascimento] atestam a vinda ao mundo de um garoto com esse nome [sendo que treze indícios (perseguidíssimos pelos governos amhitarianos de todas das tendências) afirmam ser ele na verdade uma mulher]. Lendas [e inscrições em portais de cidades perdidas] contam em gloriosas tintas suas lutas contra o invasor Átila [ou Genghis Khan; ou Napoleão; ou os Xeques Turkhmans; ou mesmo Alexandre o Grande] e sempre culminam com sua vitória [ou seu sacrifício em palavras tão grandiloquentes, que vale como vitória futura].

Todas essas evidências são, em certo sentido, incontestáveis. Tão meigas e ao mesmo tão cheias de firmeza as palavras de Temurbek, e tão corajosas e bem-intencionadas as suas ações, que se tornam verossímeis, ou quase um crime ou falta de compaixão crer em sua não-existência em um certo lugar ou tempo. Há Temurbeks em 1253 e 79 A.C., em 1911 e hoje. E todos são verdadeiros, e a nossa vida seria menos interessante se eles não o fossem.

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