... estreou hoje em 1923 no
Cine-Teatro Revolução de Outubro [antigo
Ópera Czar Nicolau II] e a multidão
que o lotava [embora inicialmente tentasse obedecer ao cartaz que informava ser
o filme um drama histórico] acabou por rir.
Siobhan Behruz traiu seu país passando-se
para os invasores Turkhmans. Expulso o inimigo, o povo o julgou e condenou ao
fuzilamento [diz a lenda]. O filme retratava rigorosamente tal história [e o público
seguia com sobriedade (e bocejos)] até que surgiu em cena o próprio Siobhan: a
cara de fuinha [além dos discursos que choviam perdigotos], a pince-nez e barbicha
e o cabelo para trás empapado de goma puxaram um vagalhão de gargalhadas: o anti-herói
conseguia ser uma mistura de Lênin, Trotsky e Stalin, os três ao mesmo tempo.
Para expor a vulgar banalidade do
vende-pátria, o filme o colocava dizendo só banalidades. O problema é que quando
Siobhan dizia Preciso de um copo de vodca,
pois um traidor do povo sempre cede à tentação da ebriedade! ou Vou agora satisfazer a minhas necessidades
fisiológicas do tipo sólido [ou do tipo líquido] o público, em vez de
enojar-se do malfeitor, ria dele.
O filme [embora fracasso ideológico]
arrastou o público. O Comitê Central [provisório] do Turquestão acrescentou um
texto inicial que o filme não apresentava nenhuma semelhança com nenhum prócer
da Revolução Proletária. Como tal aviso teve efeito contrário, o Comitê o
retirou.
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