sexta-feira, 19 de abril de 2013

19 de Abril

Autoexpulsos do Paraíso

Foi curiosamente o multiautor Ronald Wright no seu [não pouco apocalíptico] Uma Breve História do Progresso [Toronto, 2004] que restaurou uma ideia de Abdul Al-Wazahari, a de que Amhitar [ou ao menos sua parte ocidental] era [na verdade] o Paraíso.

Não todo o Paraíso, de fato. O cronista medieval afirmou [em três papiros hoje no Museu Histórico de Alma-Ata] que Shuhrrat e Gamnaal [uma alusão a Adão e Eva] expulsos caminharam 49 mil dias e 49 mil e uma noites [um óbvio exagero, mesmo descontada a distância] para as margens do Aral. [A partir de então a história do casal primeiro de Amhitar se torna tão semelhante à da dupla bíblica a ponto de ser considerada plágio.]

O canadense afirma quer o Paraíso existia, localizava-se em Çatal Hüyük na Anatólia, e os homens foram de lá expulsos não por um anjo mas por sua própria burrice – que os fez desmatar tudo e as chuvas arrastaram o solo fértil. Desceram para a Mesopotâmia e inventaram a grande [e fracassada] civilização Suméria. Todos exceto seis casais [diz o canadense – e não um só]. Instalados na foz do Syr-Daria, no Aral, criaram um modo de vida tão simples que não merece ser aqui estudado.

Não deixa de ser um tapa na cara – Wright se interessa por grandes civilizações que fracassaram. Afirma portanto que Amhitar nunca foi grande. Essa indiferença [mais odiosa que a raiva] faz com que seu livro seja desprezado tanto pela Ditadura de Karimov como pelos guerrilheiros amhitarianos.

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