Odina Rahman morreu centenária,
esposa de Sultão ou prostituta aos dezessete, assassinada pela varíola ou fabricante
de bonecas, além das 6.996 outras versões de sua vida que a tradição lhe
atribui. [O sempre entusiasmado historiador Dilafruz Michelet espinafra o seu
apelido de Sherazade de Amhitar - para
ele, Sherazade é que é a Odina da Arábia]. Desde criança a garota criou sua
vida, ou vidas. Pensava [estranho para seus seis ou oito anos] que dois passos à
direita numa rua e podia ter se perdido de seus pais. Perdida, podia ser
adotada por mercadores. Adotada, podia ter sido levada para o Hindustão.
Levada, podia partir em navio. Em navio, podia naufragar. Naufragada, podia
aportar em uma ilha deserta. E cada em um desses podia ter outra possibilidade,
e uma vida completamente diferente. Menina, chorava ou gritava de prazer pelo
que podia ter acontecido se tivesse dobrado na esquina errada um par de horas
antes.
O inevitável cronista Abdul
Al-Wazahari no seu Livro dos insuportáveis
Paradoxos estabeleceu para a tradição que foi no dia de hoje três anos
antes da Hégira que Odina deixou seus pais e se estabeleceu como contadora de
histórias no mercado de Shermarkandd. Bifurcando a história quando queria,
matando-se ou dando-se prêmios de loteria multiplicou a si mesma, e contou sete
mil vezes a própria vida. [Abdul brada que as pessoas a viam transformar-se sete
mil vezes diante de seus olhos, mas não cita fontes confiáveis].
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