sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

01 de Fevereiro

As sete mil histórias de uma jovem


Odina Rahman morreu centenária, esposa de Sultão ou prostituta aos dezessete, assassinada pela varíola ou fabricante de bonecas, além das 6.996 outras versões de sua vida que a tradição lhe atribui. [O sempre entusiasmado historiador Dilafruz Michelet espinafra o seu apelido de Sherazade de Amhitar - para ele, Sherazade é que é a Odina da Arábia]. Desde criança a garota criou sua vida, ou vidas. Pensava [estranho para seus seis ou oito anos] que dois passos à direita numa rua e podia ter se perdido de seus pais. Perdida, podia ser adotada por mercadores. Adotada, podia ter sido levada para o Hindustão. Levada, podia partir em navio. Em navio, podia naufragar. Naufragada, podia aportar em uma ilha deserta. E cada em um desses podia ter outra possibilidade, e uma vida completamente diferente. Menina, chorava ou gritava de prazer pelo que podia ter acontecido se tivesse dobrado na esquina errada um par de horas antes.

O inevitável cronista Abdul Al-Wazahari no seu Livro dos insuportáveis Paradoxos estabeleceu para a tradição que foi no dia de hoje três anos antes da Hégira que Odina deixou seus pais e se estabeleceu como contadora de histórias no mercado de Shermarkandd. Bifurcando a história quando queria, matando-se ou dando-se prêmios de loteria multiplicou a si mesma, e contou sete mil vezes a própria vida. [Abdul brada que as pessoas a viam transformar-se sete mil vezes diante de seus olhos, mas não cita fontes confiáveis].

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