Nasci há muitos anos
Por 49 anos vivi na cidade de Ônix – e com
esta frase Shahlo Maqsud [barba, três mil rugas e um olhar que denunciava catarata]
começou seu relato hoje em 1879 na estação de Zarafshan a um magote de oficiais
peterburgueses que o olhavam com um misto de curiosidade para com o estrangeiro
[como todo czarista] e desprezo pelo mesmo [como todo czarista].
Sua narrativa
em nada diferia das dos malucos que sempre emergiam nas estações ferroviárias
fronteiriças ao platô desértico de Qyzylorda, se, primeiro, uma cidade chamada Ônix
existisse [e nada havia de semelhante em toda a Ásia Central] e se Shahlo
Maqsud não tivesse [a se levar a sério suas narrativas] dez mil anos de idade [onze
mil, setecentos e sessenta e três, segundo uma paciente contagem].
O General Konstantin Petrovich
von Kaufmann o ouviu e a coincidência de que lá se encontrasse o Comandante russo
tem sido interpretada [não por poucos] como uma prova de que Shahlo falava a
verdade. Vieram as inevitáveis perguntas sobre Cleópatra e Napoleão e a estas
Shahlo respondia [com certa banalidade] que não
conhecera essas pessoas.
O fato de não
ter presenciado nem a descoberta da América nem a Queda de Roma, tendo apenas
vivido em vilas abandonadas que ninguém conhecia minguou o interesse sobre ele.
Terminou seus dias contando histórias a troco de moedas nos arredores de
Shamearkhaant – a maioria delas inventadas, sobre Napoleão ou Cleópatra, ou
sobre como presenciou a Descoberta da América.
Nenhum comentário:
Postar um comentário