sábado, 28 de dezembro de 2013

28 de Dezembro

O Primeiro dos delírios de Amhitar

Utkirbek Lennon mordiscou um cogumelo no quadragésimo-nono deserto do Platô de Qyzylorda em alguma noite de 1973 e seu espírito se destacou de seu corpo [ou se juntaram, pois no caso do mago da contracultura amhitariana essas metades costumavam se separar – geralmente depois de cheirado, fumado ou injetado – às vezes os três].

Na sua alucinação [ou realidade finistélica – como ele mesmo dizia e ninguém entendia nada] viu um país de ponta-cabeça. Não literalmente [embora por alguns segundos aquela terra magicruélica realmente tenha invertido as leis da gravidade] mas porque nela o verdadeiro existia, porém apenas como pedaços para nele se construir uma mentira nova – nova, pois a mentira já existia [ela é o que se chama de realidade].

Naquele país de delírio [que um visor semelhante a neon lhe revelou ter o nome piscante (e sem sentido) de Amhitar] ele mesmo [como um Descartes que não sabia de onde vinha] possuía uma existência – ele era um hippie meio fora de época e lugar [afinal os sessenta já tinham passado, e ele não era californiano]. Isso lhe bateu como um martelo, pois ele [apesar de todas as substâncias estranhas que já empurrara para dentro] sempre soubera se chamar Utkirbek Lennon e pertencer a um país chamado Amhitar – e agora um pedacinho de cogumelo lhe informava que Amhitar era um delírio, e que ele Utkirbek, era parte daquilo. E então, quem era ele?

Mordiscou outro pedaço para ter a resposta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário