A Tragédia única
A peça Os Sete Contra Bukhara estreou
hoje em 1897 no Teatro Nicolau II
diante do Governador Militar Russo [os longos bigodes e a cara de mau de todo
governador militar russo]. A presença dele [e de um pelotão de cossacos de
espadas afiadas como navalhas na esquina] nada tinha de amor à arte teatral e
sim de temor de perder o cargo: o sucessor de Konstantin Petrovich von Kaufmann
temia perder o que aquele lendário [e com fama de cruel] general ganhara para o
Czar: havia rumores de que os Sete Contra
Bukhara continha perigosas mensagens subliminares de incitamento a uma
revolta, degola de todos os russos invasores, profanação de templos ortodoxos,
etc. - o de sempre.
De fato a tragédia narrava a história
[mais que maluca, segundo alguns mais céticos] de uma garota que se importava
mais que o irmão que com o noivo, e que depois da morte do primeiro [já que com
o segundo ela não se importava] inventou todas as formas possíveis de irritar o
governante da cidade de Bukhara – e liderou sete guerreiros tontos na tomada da
cidade.
Considerada [pelos poucos que
entendiam] uma imitação da Antígona de Sófocles
escrita por um bêbado, a expectativa de subversão acabou se autocumprindo e
multidões viam nas frases sem sentido um protesto contra a opressão estrangeira.
O tal General também nada viu demais – e foi chamado a São Petersburgo a dar
penosas explicações – por ter deixado
passar uma peça de ódio a nosso amado Czar.
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