sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

27 de Dezembro

As palavras in-existentes

Um [pouco justificável] orgulho nacional afirma que o sétimo subdialeto Khazyr seria a língua mais rica do mundo, por ter um [não isento de exotismo] alfabeto de 999 letras [o número repetido não sendo ocasional, mas uma demanda cabalística obedecida pelos falantes e pela gramática]. Outro orgulho [não mais passível de sustentação razoável que o primeiro] argumenta que a superioridade linguística nacional não se deve a uma overdose de fonemas mas ao contrário por uma ausência, aliás duas: no mais destacado dialeto nacional não existiria nenhum equivalente das palavras infinito e labirinto.

Os pessimistas de profissão [praga em todo o mundo e em Amhitar] explicam-no pela falta de imaginação: considerando-se que estas palavras se espalham como erva daninha em textos de literatura pós-moderna, explica-se a pequena [ou nula] importância do país na cultura de hoje. A mente amhitariana [continuam em sua diatribe antipatriótica] seria muito pequena para entender tais abstratos conceitos.

Os outros [que formam a grande maioria] se orgulham de que tais palavras têm origem na balbúrdia: o sem fim pode até atiçar a imaginação mas é humana e tecnicamente inviável, senão impossível. E todo problema [até beber um copo d´água] é labirinto, até ser solucionado.

Reconhecem [no entanto] os patriotas que essas palavras fornecem um bocado de assunto para os escritores sem assunto, e assim a literatura amhitariana se empobrece um tanto com sua falta.

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