As palavras in-existentes
Um [pouco justificável] orgulho
nacional afirma que o sétimo subdialeto Khazyr
seria a língua mais rica do mundo, por ter um [não isento de exotismo] alfabeto
de 999 letras [o número repetido não sendo ocasional, mas uma demanda
cabalística obedecida pelos falantes e pela gramática]. Outro orgulho [não mais
passível de sustentação razoável que o primeiro] argumenta que a superioridade
linguística nacional não se deve a uma overdose de fonemas mas ao contrário por
uma ausência, aliás duas: no mais destacado dialeto nacional não existiria
nenhum equivalente das palavras infinito
e labirinto.
Os pessimistas de profissão
[praga em todo o mundo e em Amhitar] explicam-no pela falta de imaginação: considerando-se
que estas palavras se espalham como erva daninha em textos de literatura pós-moderna,
explica-se a pequena [ou nula] importância do país na cultura de hoje. A mente
amhitariana [continuam em sua diatribe antipatriótica] seria muito pequena para
entender tais abstratos conceitos.
Os outros [que formam a grande
maioria] se orgulham de que tais palavras têm origem na balbúrdia: o sem fim pode até atiçar a imaginação mas
é humana e tecnicamente inviável, senão impossível. E todo problema [até beber
um copo d´água] é labirinto, até ser solucionado.
Reconhecem [no entanto] os
patriotas que essas palavras fornecem um bocado de assunto para os escritores
sem assunto, e assim a literatura amhitariana se empobrece um tanto com sua
falta.
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