Meninos crescem e querem saber
quem são - brincam de ser soldados, reis ou atletas e Mohira Daniyar aos oito
anos e meio descobriu: não era nada. Os outros riam, e choravam, e brigavam, e
Mohira se entristecia, e se alegrava, e se enraivecia, mas nele esses
sentimentos eram superficiais como uma capa de gordura que sai com detergente. Jovem,
arrastava um vazio, não de tristeza, mas um vazio puro. Até que, nessa data
[cuja única fonte é uma nota publicada na terceira página do Pravda por seu admirador Rhared Dorshimoor, ou Serguei Eisenstein]
viu as manchas preto-e-brancas de uma nova arte, o cinema.
Mohira percebeu que havia uma
profissão que consiste em encher um homem de outro homem, melhor ainda se for
outro por completo diferente. Tornou-se ator. Encharcou-se de outras almas em Sete caminhos para o Inferno, Vovô Bobão e principalmente A Invasão dos Saticons, a história de
uma família de pistoleiros (inspirada em um obscuro episódio da história
amhitariana) sempre vestidos de capa preta e que queriam arrasar uma cidade. A
sombria fala do mocinho vivido por Mohira: Não
se preocupe comigo – eu escaparei; eu sempre escapo foi imitada por meninos
por duas gerações em Amhitar. A facilidade com que Mohira Daniyar passava de um
papel triste para uma comédia admirava os fãs e invejosos, mas não a ele. Basta ser vazio – disse a seu admirador Rarhed
ou Eisenstein, mas pelo meio-riso, este não o teria levado a sério.
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