Ilyos Aynur decretou com a força
das pontas de ferro das lanças dos quarenta e cinco soldados de sua guarda
pessoal que durante seis dias, quatro horas e dezessete minutos Cada habitante de Amhitar terá de ser outra
pessoa, sendo enviado para a outra margem do Rio das Sombras todo malévolo que
não se submeter. [Ninguém soube explicar esse período de tempo quebrado]. Pessoas
tristes [diz a lenda] compunham então toda a terra – sem comemorações, os
amhitarianos nasciam e viviam como bichos [apenas o bom-senso é necessário para
contestar tal versão – não existem povos sem festas].
Ilyos Aynur cara gretada barba de
três séculos era provavelmente a pessoa menos provável de criar celebrações. Valiam
máscaras, vozes torcidas, fingimentos. Não sendo a si mesmas, as pessoas
dançavam e cantavam e vomitavam e copulavam livres. [Os excessos não eram combatidos
pelos sacerdotes, pois ainda segundo a lenda, os sacerdotes não existiam]. Java
Kharlilah [o único autor a levar a sério essa invenção do carnaval amhitariano]
estabelece a data de sua criação como hoje no ano de 610 a.C., uma fixação
fruto tanto da pesquisa como da fantasia conforme o sombrio relatório publicado
em 1962 pela [traidora] Academia Soviético-Proletária
da Ásia Central, a qual, sempre zelosa das lutas das massas, proibiu essa
festa alienante. Os governos, até mesmo o do ditador Karimov, temerosos da reação
popular, preferiram olhar de lado.
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