As cidades [até então perdidas]
de Sahel-al-Nikkumir foram descobertas [às custas de não poucas mortes de
escavadores tragados pela malária, lama movediça e bandoleiros] para supremo
azar dos seus descobridores no dia de hoje em 1875 poucos dias depois de Heinrich
Schliemann [não sem estardalhaço] publicar a descoberta das ruínas de Troia. Hipnotizados
pelas estripulias de Ulisses, Heitor e Helena, os jornais de Paris e Berlim
pouca importância deram a um longínquo achado arqueológico só tornado possível
por uma super-seca num lago na planície de Aqtöbe.
Como Troia, Nikkumir foi construída
e reconstruída, no seu caso onze vezes. Ao contrário da cidade grega, ela o foi
sempre do mesmo material, o barro. Só que por razões inexplicáveis [uma lacuna que
a Escola Romântica de historiografia tentou preencher sem sucesso] a cada vez o
barro era embebido não em agua mas em perfume – uma das cidades cheirava a madressilva,
outra a gerânios, outra a uma infusão de hortênsias e margaridas.
Velhos testemunhos [o último deles
é um rolo de pergaminho datado do século XVI] dizem que havia especialistas em
descobrir em qual dos bairros se percebia mais o odor de épocas anteriores. O
aumento das águas do lago teria sufocado a cidade, seu maravilhoso aroma - e
dispersado seus curiosos habitantes. O escritor materialista Serguei Kovinev,
em uma rara concessão à delicadeza, diz que se trata de uma bela história. Nega-se
no entanto a confirmá-la.
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