sábado, 23 de fevereiro de 2013

23 de Fevereiro

Descoberta da cidade-flor


As cidades [até então perdidas] de Sahel-al-Nikkumir foram descobertas [às custas de não poucas mortes de escavadores tragados pela malária, lama movediça e bandoleiros] para supremo azar dos seus descobridores no dia de hoje em 1875 poucos dias depois de Heinrich Schliemann [não sem estardalhaço] publicar a descoberta das ruínas de Troia. Hipnotizados pelas estripulias de Ulisses, Heitor e Helena, os jornais de Paris e Berlim pouca importância deram a um longínquo achado arqueológico só tornado possível por uma super-seca num lago na planície de Aqtöbe.

Como Troia, Nikkumir foi construída e reconstruída, no seu caso onze vezes. Ao contrário da cidade grega, ela o foi sempre do mesmo material, o barro. Só que por razões inexplicáveis [uma lacuna que a Escola Romântica de historiografia tentou preencher sem sucesso] a cada vez o barro era embebido não em agua mas em perfume – uma das cidades cheirava a madressilva, outra a gerânios, outra a uma infusão de hortênsias e margaridas.

Velhos testemunhos [o último deles é um rolo de pergaminho datado do século XVI] dizem que havia especialistas em descobrir em qual dos bairros se percebia mais o odor de épocas anteriores. O aumento das águas do lago teria sufocado a cidade, seu maravilhoso aroma - e dispersado seus curiosos habitantes. O escritor materialista Serguei Kovinev, em uma rara concessão à delicadeza, diz que se trata de uma bela história. Nega-se no entanto a confirmá-la.

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