A hoje discutida e [quase]
misteriosa Academia de Ciências de
Amhitar no dia de hoje em 1933 [duas semanas antes de sua passagem à
clandestinidade] publicou [não sem críticas e risos que disfarçavam raiva] uma biografia
do [inicialmente] vidraceiro Zulfizar Oygul.
Zulfizar [segundo tal documento] fundou
poderosamente com seus escritos a psicologia, cuja criação era então [e até
hoje] falsamente atribuída a um médico vienense de óculos, ao qual a Academia
[não sem desprezo] sequer dá o nome de Dr. Freud. As obras do vidraceiro se
resumem a três rolos, dois recopiados no ano de 1099 e o terceiro sem data.
Confessa Zulfizar no primeiro de
seus escritos sem título Durante um par
de décadas vi a mim mesmo nos espelhos
que cortava. Depois, passei a desconfiar que nos espelhos havia outro homem,
que me espionava e, às vezes, fazia troça de mim. Descobri que esse homem, sem
deixar de ser outro, era eu mesmo.
Escreve que o segredo consiste não
em combatê-lo mas em reconciliar-se com ele. E que esta falta em ouvi-lo causa desde a
melancolia até a unha encravada. E que a melhor forma de ouvi-lo era deitado e
falando. O duplo usaria a boca do paciente para falar.
Por revolucionárias que fossem,
suas ideias quedaram esquecidas. {Dizem que] na [maldita] cidade de Tashkent há
um museu clandestino com o divã em que Zulfizar escutava os duplos de seus admiradores,
mas isso é provavelmente uma falsidade para fazer o seu imitador parecer ainda
mais imitador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário