segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

11 de Fevereiro

Apotegmas do duplo-Freud


A hoje discutida e [quase] misteriosa Academia de Ciências de Amhitar no dia de hoje em 1933 [duas semanas antes de sua passagem à clandestinidade] publicou [não sem críticas e risos que disfarçavam raiva] uma biografia do [inicialmente] vidraceiro Zulfizar Oygul.

Zulfizar [segundo tal documento] fundou poderosamente com seus escritos a psicologia, cuja criação era então [e até hoje] falsamente atribuída a um médico vienense de óculos, ao qual a Academia [não sem desprezo] sequer dá o nome de Dr. Freud. As obras do vidraceiro se resumem a três rolos, dois recopiados no ano de 1099 e o terceiro sem data.

Confessa Zulfizar no primeiro de seus escritos sem título Durante um par de décadas vi a mim mesmo nos espelhos que cortava. Depois, passei a desconfiar que nos espelhos havia outro homem, que me espionava e, às vezes, fazia troça de mim. Descobri que esse homem, sem deixar de ser outro, era eu mesmo.

Escreve que o segredo consiste não em combatê-lo mas em reconciliar-se com ele.  E que esta falta em ouvi-lo causa desde a melancolia até a unha encravada. E que a melhor forma de ouvi-lo era deitado e falando. O duplo usaria a boca do paciente para falar.

Por revolucionárias que fossem, suas ideias quedaram esquecidas. {Dizem que] na [maldita] cidade de Tashkent há um museu clandestino com o divã em que Zulfizar escutava os duplos de seus admiradores, mas isso é provavelmente uma falsidade para fazer o seu imitador parecer ainda mais imitador.

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