A história oficial [longe de ser
incontroversa] reza que na data de hoje no ano de 1830 dois rapazes saltimbancos
alegres e idealistas, os felizes irmãos Shahlo, publicaram a primeira coletânea
de contos de fadas de Amhitar. Essa dupla [continua a história] pretendia conhecer
o verdadeiro Amhitar e por um par de anos percorreu estradas inexistentes pelo
interior, quase se afogou em riachos e definhou de disenteria em estalagens de último
nível e o resultado foram maravilhas como A
história do homem, do leão e do jumento, ou A princesa dos dentes de prata, ou Aventuras do gatinho que queria ser rei, os quais [diz o
patriotismo amhitariano] são dignos de figurar em qualquer coletânea mundial de
lendas populares.
Iusya Marzhaffar [como sempre]
joga seu balde de água fria: diz ele que os irmãos não eram alegres e sim uma
dupla de mal-humorados; e que os irmãos percorreram Amhitar inteira e não
acharam nenhuma história que interessasse. O povo de Amhitar era o mais chato e
sem imaginação de todo o mundo. Os irmãos [afirma o (quase) aborrecido
historiador materialista] inventaram tudo. Da sua cabeça saíram fadas e monstros
e duendes, multiplicaram os braços dos gênios e as trombas dos elefantes mágicos,
e criaram um país imaginário interessante como contraste a um país real e que
batia recordes de chatice.
Embora essa versão crie dois grandes
escritores em Amhitar, é hoje compreensivelmente esquecida pelos patriotas autênticos.
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