quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

28 de Fevereiro

O estranho povo


Os Zhamyares vieram por volta do século VII das planuras do leste [segundo os tradicionalistas], ou dos pântanos do oeste [diz o pensamento mais novo]. As quatro únicas esferas de pedra que deixaram [traduzidas não sem algum mistério no dia de hoje em 1744 pelo linguista Abdullaeva Behruz – segundo ele, sua língua era uma distorção ilógica (e por isso fascinante) de um dos 199 dialetos Khazyr] deixam claro o reducionismo do apelido que a eles foi dado, de o estranho povo.

Uma das esferas fala de arte militar. Nas guerras dos Zhamyares, os generais vencedores recebiam tudo do melhor e do bom, os licores mais finos, os suflês mais suaves e as cortesãs de pele mais macia – e depois tinham sua cabeça cortada em praça pública. [Eram substituídos por outros que depois de vencedores tinham o mesmo destino – se perdedores, o próprio inimigo se encarregaria de matá-los.]

Sua lógica era [embora longe de ser consensual] impecável – generais vivem de mandar homens para a morte. Nada mais natural que eles mesmos morram também. O contrário seria injusto. Ao argumento de que os melhores generais deviam ser poupados os Zhamyares diziam que nada é mais fácil que ser chefe – é só não se importar com a morte dos outros.

Em pequeno pós-escrito o linguista acrescentou não sem malícia que os testemunhos do povo Zhamyar foram compreensivelmente destruídos por ordens de reis, xeques e generais – por isso restaram tão poucos.

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