sábado, 16 de fevereiro de 2013

16 de Fevereiro

O poeta rebelde


Enquanto a bala do marido traído penetrava nove centímetros em seu corpo, o poeta Byron Jasur [o nome é um evidente pseudônimo] teve tempo de pronunciar uma frase e a já existência de jornais em Amhitar no dia de hoje em 1863 torna ainda mais difícil saber que frase é essa. Das cinco alegadas frases [que correspondem ao número de diários da capital] apenas três são consideradas minimamente verossímeis. O poeta maldito casaca violeta e bigodes encerados teria falado

- Hoje adormecerei nos braços das deusas, ou
- Para que viver se sonhar nos basta, ou
- Tudo pelos teus seios, ò adorada minha.

Não adormeceu com deusas mas durante dias tomou sopa com as enfermeiras do Hospital de Shkmaarkant. Byron Jasur tinha tudo para ser ídolo dos jovens de Amhitar, e o era. Sua capacidade de combinar hemistíquios e fazer poemas sobre rouxinóis e tempestades rivalizava apenas com seu talento de fazer moças desafiarem junto com ele as convenções dessa doce e mentecapta prisão do casamento, como bradou em sua poesia mais recitada.

A soturna Enciclopédia das Massas Trabalhadoras, editada em 1958 pela Academia Soviético-Proletária da Ásia Central, diz que os poetas românticos, apesar de sua alienação pequeno-burguesa, representaram sem dúvida um avanço na crítica à tola vida capitalista. O furor desvirginante do poeta, ardentemente admirado pelo seu então discípulo adolescente e futuro historiador Dilafruz Michelet, é ignorado pela puritana Academia.

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