Enquanto a bala do marido traído penetrava
nove centímetros em seu corpo, o poeta Byron Jasur [o nome é um evidente pseudônimo]
teve tempo de pronunciar uma frase e a já existência de jornais em Amhitar no
dia de hoje em 1863 torna ainda mais difícil saber que frase é essa. Das cinco alegadas
frases [que correspondem ao número de diários da capital] apenas três são
consideradas minimamente verossímeis. O poeta maldito casaca violeta e bigodes
encerados teria falado
- Hoje adormecerei nos braços das deusas, ou
- Para que viver se sonhar nos basta, ou
- Tudo pelos teus seios, ò adorada minha.
Não adormeceu com deusas mas
durante dias tomou sopa com as enfermeiras do Hospital de Shkmaarkant. Byron
Jasur tinha tudo para ser ídolo dos jovens de Amhitar, e o era. Sua capacidade
de combinar hemistíquios e fazer poemas sobre rouxinóis e tempestades rivalizava
apenas com seu talento de fazer moças desafiarem junto com ele as convenções
dessa doce e mentecapta prisão do
casamento, como bradou em sua poesia mais recitada.
A soturna Enciclopédia das Massas Trabalhadoras, editada em 1958 pela Academia Soviético-Proletária da Ásia
Central, diz que os poetas românticos, apesar
de sua alienação pequeno-burguesa, representaram sem dúvida um avanço na crítica
à tola vida capitalista. O furor desvirginante do poeta, ardentemente admirado
pelo seu então discípulo adolescente e futuro historiador Dilafruz Michelet, é
ignorado pela puritana Academia.
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