sexta-feira, 7 de junho de 2013

07 de Junho

Duplos do irreal

Arnold Hauser na terceira nota de rodapé do capítulo primeiro da sua História Social da Arte [cuja tradução em dialeto Bakhmar se publicou hoje em 1929] menciona a arte da pintura em Amhitar.

Na Arte Paleolítica [afirma o ensaísta] tanto o animal pintado quanto o animal livre são reais. Para o pintor moderno um é real e o outro é ficção.  Hauser na nota [que se estende por quase três páginas] visualiza uma possível tradição de arte pela qual o objeto pintado e o objeto visto são [ambos] duplos irreais.

Tal nunca existiu exceto em uma curta fase no período Semimédio da arte amhitariana [diz]. Não é que as coisas fossem [a princípio] falsas. Mas o fato de serem pintadas permitia que se as vissem de forma irreal.

Não deixava de ter aplicação prática. Uma garota que terminara o namoro encomendava um quadro do seu ex-amado. Ele se tornava falso como a pintura e ela não se suicidava. Derrotas militares antigas [ao se tornarem grandes trípticos] deixavam de doer.

Segundo Hauser, os poucos testemunhos [que ele não particulariza] permitem concluir que tal arte decaiu por seu próprio sucesso. As coisas [quase] todas se tornaram arte e a própria arte deixou portanto de existir. E teve de ressurgir de forma tradicional, como um duplo irreal imitando um duplo real, o que prova que a Arte é Mesmo Indispensável ao Ser Humano [conclui com otimismo talvez excessivo].

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