domingo, 30 de junho de 2013

30 de junho

Do nada vem a revolta do nada

O mundo hoje em 1864 semelhava perfeito ou ao menos com sua imperfeição costumeira [os galos a cantar por volta das cinco, o merceeiro a roubar no peso, o telégrafo trazendo notícias de bocejos] quando [sem nenhuma razão aparente ou desaparente] setenta jovens degolaram sete soldados e a promessa de vingança do Emir apenas atiçou que sete mil, depois [dizem não sem algum exagero] sete milhões invadissem o bazar, os becos e os haréns dispostos a consertar o mundo  e as calçadas sem alinhamento.

Em um dos momentos mais patéticos da história de Amhitar [e também nos últimos momentos da vida do Emir] os jovens revoltosos [derrubadas as portas de bronze do palácio, tendo enviado novecentos guardas para repousar no reino de Alá] berraram que os comerciantes roubavam, os fiscais propinavam, os soldados violentavam e a eles [o resto] sobrava o trabalho e o encolhimento. O Emir [miado de gatinho] gaguejou: não sempre foi assim? Porque essa raiva agora?...

Quatro dias depois o mundo voltou a semelhar perfeito ou ao menos com a imperfeição de costume.

Esta Revolta não foi por ninguém adotada – os marxistas depois a consideraram burguesa, os conservadores disseram ser apenas obra de quebra-quebras, e o filho do Emir, com ânimo de perdão [e com medo de nova revolta caso vingasse o pai] resolveu passar uma borracha. Tão inesperada foi que ganhou o anódino nome de Revolução do Meio do Ano, à falta de melhor rótulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário