terça-feira, 25 de junho de 2013

25 de junho

Cego dinheiro

Sobre a moeda de Amhitar [o Amhit] pairam discussões que primam por sua radical inutilidade [a (previsível) opinião é do geógrafo Serguei Kovinev, que valorizava (dizia) a objetividade até quando bebia água]. Uma escavação hoje em 1897 para a troca de dormentes na Ferrovia Trans-Turquestão ocasionou a descoberta dos únicos treze exemplares conhecidos de tal raridade numismática [existindo 337 outros, porém com fortes suspeitas de falsificação].

Datações de Carbono 14 [confirmadas na Universidade de Delhi em 1968] colocam tais moedas entre 350 e 499 d.C., o que faria delas as únicas da época a não terem efígie, nem de rei, nem príncipe. A maior e mais tola discussão [de novo é Kovinev quem o afirma] se refere à questão se o [hoje esquecido] potentado que ordenou sua cunhagem era tão feio que não queria ser representado, ou se usava um véu por alguma razão religiosa para não ser contemplado por seus súditos. [O Amhit é moeda tão valiosa quanto monótona – não passa de um disco mal feito com toscos enfeites na borda].

Impaciente com tais especulações, a Academia Soviético-Proletária da Ásia Central [em um momento de (raro) bom humor] publicou número especial em outubro de 1939 afirmando que o Xamã da época era cego e decretou que, se ele não podia ver a beleza de sua moeda, ninguém também poderia. [Curiosamente uma metade de pergaminho (datada do ano 599) descoberta pouco depois em um pagode budista em Jacarta parece confirmar tal hipótese].

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