O Dia
Nacional contra o Roubo
A publicação do Tratado Geral de Afanos e Descuidismos ao
Próximo, e da Arte de por Causa Deles Não ser Pego
compreensivelmente não faz parte dos eventos mais honrados em
Amhitar, e nem mesmo o [esperável] entusiasmo da Academia
[Pós-moderna] do Passado Inexistente faz
com que seja o patriotismo amhitariano se sinta menos ultrajado por
tal compêndio.
Em uma história tão pontuada por
grossas neblinas da incerteza e manuscritos rasgados pela metade, a
existência desta [por muitos considerada pouco] honrosa obra se
trata de evento quase que incontestável [nada menos que sete
edições, com nunca menos que nove exemplares sobreviventes em cada
uma, quase todos em ótimo estado, garantem que tal trabalho se
encontra longe de ser lenda].
Para o patriotismo, o pior é que
tal peça [de data e autor incertos] caiu no domínio do público. O
22 de junho é o dia das pequenas tapeações, dos trotes telefônicos
e dos vírus de computador [um jornalista chegou a publicar neste dia
uma nota falsa O Grande Stalin afirma não gostar de
sorvete de baunilha, algo que em
1951 exigia não menos que inenarrável coragem].
O Politburo tentou a domesticação
da efeméride e decretou tal dia a Jornada Nacional contra
a Feiura das Pequenas Safadezas, na
qual todos meditariam contra a impropriedade de tal tais atos.
Vítimas de uma onda de trotes telefônicos, as preclaras autoridades
desistiram de promover celebrações a respeito, mas a data [oficial
ou não] permaneceu.
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