sábado, 1 de junho de 2013

01 de Junho

A quase-data magna de Amhitar

Por 49 dias e 72 noites [e esse descompasso compromete a verossimilhança da história] a Academia de Ciências de Amhitar [em 1888] discutiu Qual a Data Maior de Nosso País. Movia-a uma inveja que depois se diria freudiana da França – com seu incomensurável 14 de julho ou dos EUA com o 4 de julho [para não falar de certo longínquo reino inexistente, com seu 7 de setembro].

As hipóteses se empilhavam: inicialmente se pensou em uma data de ruptura política, como nas terras invejadas. Um pouco de honestidade dos estudiosos revelou [no entanto] que em Amhitar as classes mandonas eram sabidas demais para se permitir quebras – as mudanças [se é que se pode dar esse nome ao ramerrão diário cujas transformações requerem microscópio] se derramavam babugentas como açúcar queimado – e não mudavam nada.

Os aniversários de heróis sempre davam de cabeça com revelações [pouco novidadescas, aliás] de subornos, vira-casaquismos, doces buscas de vantagem pessoal – os heróis exigiriam muitos bigodes falsos para se disfarçar.

Exaustos e com ganas de autoestrangulamento, o cansaço tomou a decisão. Numeraram os dias, somaram os dias candidatos e tiraram a média: o resultado foi o inexpressivo 1 de junho. E foram para casa. O Regime dos Cem Dias tentou promover a data afirmando que nada era extraordinário nela, pois o povo amhitariano era tão extraordinário que não precisava de datas assim. Tal iniciativa caiu no oblívio.

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