Por 49 dias e 72 noites [e esse
descompasso compromete a verossimilhança da história] a Academia de Ciências de Amhitar [em 1888] discutiu Qual a Data Maior de Nosso País. Movia-a
uma inveja que depois se diria freudiana da França – com seu incomensurável 14
de julho ou dos EUA com o 4 de julho [para não falar de certo longínquo reino
inexistente, com seu 7 de setembro].
As hipóteses se empilhavam: inicialmente
se pensou em uma data de ruptura política, como nas terras invejadas. Um pouco
de honestidade dos estudiosos revelou [no entanto] que em Amhitar as classes
mandonas eram sabidas demais para se permitir quebras – as mudanças [se é que
se pode dar esse nome ao ramerrão diário cujas transformações requerem microscópio]
se derramavam babugentas como açúcar queimado – e não mudavam nada.
Os aniversários de heróis sempre
davam de cabeça com revelações [pouco novidadescas, aliás] de subornos,
vira-casaquismos, doces buscas de vantagem pessoal – os heróis exigiriam muitos
bigodes falsos para se disfarçar.
Exaustos e com ganas de
autoestrangulamento, o cansaço tomou a decisão. Numeraram os dias, somaram os
dias candidatos e tiraram a média: o resultado foi o inexpressivo 1 de junho. E
foram para casa. O Regime dos Cem Dias tentou promover a data afirmando que
nada era extraordinário nela, pois o povo amhitariano era tão extraordinário
que não precisava de datas assim. Tal iniciativa caiu no oblívio.
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