Quis o destino [mas o destino provavelmente
foi destruído junto com a tabuinha no qual se achava] que fossem as escavações para
as latrinas da cidade que possibilitassem o encontro hoje em 1937 das longas varetinhas
quadradas de finíssimo barro [não sem os tratores pulverizarem a maior parte]. Esses
artefatos com inscrições em dialeto protokhazyr contavam vidas – com tanto detalhe
que seria possível alguém viver apenas seguindo um desses roteiros.
Estudos da Academia de Ciências
de Moscou conceberam tais varetas como coleções de fatos, que podiam ser
semelhantes uns aos outros, mas que, combinados de certa forma, criariam um ser
único, tabuinha ou pessoa [em notável antecipação da moderna teoria do DNA].
O espalhamento dessa notícia
ocasionou uma corrida às escavações, o que [lamentavelmente] destruiu o que
havia sobrado dos tratoristas. Pessoas se atiraram às tabuinhas pois fofocou-se
que o destino de cada um estava ali, em alguma vareta. Desesperadas, queriam [e
temiam] saber quando iriam morrer ou seriam príncipes.
A passagem de uma vareta de barro
para uma vida demanda algum trabalho. O Comitê de Cientistas quis explicar isso,
mas o temor da decepção [e da revolta] fez com que se calasse, e o destino [e a
ansiedade popular] destruíram os destinos impressos, para o bem [talvez] de
todos. Sobraram sete fragmentos guardados no Museu da cidade traidora de
Tashkent, tão quebrados que deles nada se entende, muito menos a vida de alguém.
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