domingo, 4 de agosto de 2013

04 de agosto

Vagos soberanos

A Academia de Ciências de Amhitar [de maneira só explicável pelo puro capricho] decretou o dia de hoje como aquele da Lembrança das Dinastias Arcaicas - e a sua rival e sucessora Academia Soviético-Proletária da Ásia Central [de maneira quadruplamente inexplicável] concordou.

Nem as duas Academias nem os xamãs nem os comissários jamais conseguiram definir com precisão tais dinastias [e menos ainda a razão de sua presença no imaginário popular]. Situam-nas vagamente [e o advérbio aqui é mais do que justificado, diz o mau humor do cronista Iusya Marzhaffar] antes do tempo do profeta dos hereges [um certo Cristo], em uma data envolvida pela névoa entre três séculos e trinta milênios antes dele [defendem a última data aqueles que creem (não sem orgulho patriótico) que o Homem Amhitariano é o Homem primordial].

As especulações sobre os reis de tais dinastias [como seria de esperar] oscilam desde um conjunto de bondosos soberanos e suas pias famílias [com direito até a um príncipe que casou com uma camponesa - numa curiosíssima antecipação da Cinderela] até um grupo de selvagens representações do atraso do Despotismo Oriental.

Mesmo o geógrafo Serguei Kovinev [que não era neutro – seu lado (segundo ele mesmo) era o dos proletários] afirma que a vaporosidade dos vestígios arqueológicos faz com se veja em tais Dinastias aquilo que cada um quer ver. Por isso [talvez] 9.999 lendas [o número é discutível] as percebam como utopia ou como terror, conforme o gosto.

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