A Academia de Ciências de Amhitar [de maneira só explicável pelo puro
capricho] decretou o dia de hoje como aquele da Lembrança das Dinastias Arcaicas - e a sua rival e sucessora Academia Soviético-Proletária da Ásia Central
[de maneira quadruplamente inexplicável] concordou.
Nem as duas Academias nem os xamãs
nem os comissários jamais conseguiram definir com precisão tais dinastias [e
menos ainda a razão de sua presença no imaginário popular]. Situam-nas
vagamente [e o advérbio aqui é mais do que justificado, diz o mau humor do
cronista Iusya Marzhaffar] antes do tempo do profeta dos hereges [um certo
Cristo], em uma data envolvida pela névoa entre três séculos e trinta milênios
antes dele [defendem a última data aqueles que creem (não sem orgulho patriótico)
que o Homem Amhitariano é o Homem
primordial].
As especulações sobre os reis de tais
dinastias [como seria de esperar] oscilam desde um conjunto de bondosos soberanos e suas pias famílias [com direito
até a um príncipe que casou com uma camponesa - numa curiosíssima antecipação
da Cinderela] até um grupo de selvagens representações do
atraso do Despotismo Oriental.
Mesmo o geógrafo Serguei Kovinev
[que não era neutro – seu lado (segundo ele mesmo) era o dos proletários] afirma que a vaporosidade dos vestígios
arqueológicos faz com se veja em tais
Dinastias aquilo que cada um quer ver. Por isso [talvez] 9.999 lendas [o número
é discutível] as percebam como utopia ou como terror, conforme o gosto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário