Da primeira biblioteca
de Amhitar não quedaram registros, sendo pouco menos que um exercício de delírio
a data de hoje [declarada como dia de sua fundação].
Certo, três
paredes de abobe [e o pedaço de uma quarta] na melancólica [e abandonada] cidade
de Khatlon permitem afirmar [embora de maneira pouco firme] que foi naquele
[triste] lugar que um dia [alegremente] crianças, velhos e sábios cascavilharam
sobre pergaminhos e tabuinhas com inscrições. [Ou ao menos esta imagem paradisíaca
consta do livro ilustrado Maravilhas da
Cultura de Nossa Pátria, que depois (desafortunadamente) estudos mais
acurados revelaram ser tão delirante quanto a data].
À falta de
resquícios físicos, sobram as interpretações. Uma das mais célebres procura
explicar a falta de pedaços rasgados de pergaminho ou papel no sítio arqueológico
de Khatlon por uma maneira não carente de
exotismo: exemplo único no mundo, a Biblioteca de Amhitar [sendo a cultura da época
(vagamente situada entre 1000 e 3000 A.C.) totalmente oral] reunia não livros,
mas pessoas que sabiam histórias. Os leitores não liam: chegavam, pediam as histórias,
os contadores contavam, os leitores
iam embora.
Tal versão
[por delirante que fosse] originou outra mais ainda: certo Duque, cioso de sua
biblioteca, proibiu os contadores de histórias de morrerem, ameaçando com terríveis
punições os desobedientes. Apesar de que nem naquela região nem naquela época
houvesse duques, tal versão conta com não poucos adeptos.
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