segunda-feira, 12 de agosto de 2013

12 de agosto

Eternos livros

Da primeira biblioteca de Amhitar não quedaram registros, sendo pouco menos que um exercício de delírio a data de hoje [declarada como dia de sua fundação].

Certo, três paredes de abobe [e o pedaço de uma quarta] na melancólica [e abandonada] cidade de Khatlon permitem afirmar [embora de maneira pouco firme] que foi naquele [triste] lugar que um dia [alegremente] crianças, velhos e sábios cascavilharam sobre pergaminhos e tabuinhas com inscrições. [Ou ao menos esta imagem paradisíaca consta do livro ilustrado Maravilhas da Cultura de Nossa Pátria, que depois (desafortunadamente) estudos mais acurados revelaram ser tão delirante quanto a data].

À falta de resquícios físicos, sobram as interpretações. Uma das mais célebres procura explicar a falta de pedaços rasgados de pergaminho ou papel no sítio arqueológico de Khatlon por uma  maneira não carente de exotismo: exemplo único no mundo, a Biblioteca de Amhitar [sendo a cultura da época (vagamente situada entre 1000 e 3000 A.C.) totalmente oral] reunia não livros, mas pessoas que sabiam histórias. Os leitores não liam: chegavam, pediam as histórias, os contadores contavam, os leitores iam embora.

Tal versão [por delirante que fosse] originou outra mais ainda: certo Duque, cioso de sua biblioteca, proibiu os contadores de histórias de morrerem, ameaçando com terríveis punições os desobedientes. Apesar de que nem naquela região nem naquela época houvesse duques, tal versão conta com não poucos adeptos.

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