sexta-feira, 30 de agosto de 2013

30 de Agosto

O Herói [ou a Heroína]

O guerreiro Donyhor al-Temurbek não deixou imagens e os seus admiradores atribuem essa ausência a uma modéstia do maior herói de Amhitar. Preocupado em defletir os elogios de si mesmo, o cavaleiro e espadachim recusou a todos os pedidos de gravar em papel ou pergaminho as suas feições, dizendo que ele nada mais era que um símbolo da bravura de todo o povo. [Outra história não menos lisonjeira afirma que o herói, por seu dinamismo patriótico, não tinha disposição de se sentar horas e horas posando].

Tal a versão oficial, que uma menina de seis anos [quase] demoliu ao brincar [hoje em 1881] no quintal na vilazinha de Zarkunak e topar com a quina de uma urna de argila [na verdade era uma de sete]. Abertas, quatro continham papiros destruídos por carunchos [de novo a versão oficial, para alguns suspeita] e as outras revelaram três gravuras do herói.

Inicialmente a Academia de Ciências de Amhitar saldou a descoberta como o curioso porém inócuo detalhe de que o maior vulto da pátria usava cabelo longo. Uma inspeção mais detalhada no entanto revelou que Donyhor al-Temurbek era mulher, uma Joana D´Arc centro-asiática.

O machismo amhitariano nunca permitiu que tal hipótese prosperasse. As gravuras sumiram do museu de Shmaerkhaant dezessete dias depois [não antes que cópias fossem tiradas para fomentar a suspeita recorrente]. Para todos os efeitos, o poder amhitariano insiste no gênero masculino do fundador da pátria [ou da sua fundadora].

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