sexta-feira, 23 de agosto de 2013

23 de agosto

Muros

O Xeque Zulfizar planejava uma grande parede de pedras, torres e guardas na fronteira Noroeste frente aos 99 desertos do platô de Qyzylorda [e das tribos nômades que o habitavam].

Preocupações orçamentárias o desviaram desse grandioso [e no entanto vulgar] projeto. A falta de dinheiro o obrigou à filosofia. Pensou: o importante de uma muralha é dividir. Aqui estamos nósroeste para defender o pava um grande muro de pedras, teorres e guardas na fronteira Noroeste para defender o ap [os civilizados] e lá estão eles [os bárbaros].

Invadiu a terra bárbara e dizem os cronistas [com algum exagero] que deixou poucas cabeças em cima de pescoços. Isso garantiu [enquanto perdurasse a memória do medo] que ninguém de lá viria para cá. Foi a primeira parte.

Restava convencer os de cá a não irem para lá [tarefa necessária, pensou o arguto Xeque, pois era o terror dos Bárbaros que fazia o povo aceitar o terror (alegadamente menor) dos guardas, dos dervixes, dos cortesãos e dele mesmo].

Traçou uma linha na areia e bradou – Do lado de lá não há nada! [A paisagem plana como chapa facilitou sua tarefa].

O Xeque virou ossos, e assim também seus netos e os tatara-tatara-netos dos netos destes e ninguém se atrevia a [ou queria] atravessar a linha.

Um homem [o célebre andarilho Dasha Ulugbek] passou no lugar [no dia de hoje em ano discutível] para caminhar além. [Já eram então simples lembranças as razões políticas que geraram a proibição]. Perguntaram-lhe Por que você quer ir lá?

Respondeu: Por que o Lá existe – e meteu o sapato [na verdade uma sandália] na estrada, que nem havia.

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