A estranha Seita dos Adoradores da Chave [Zhugirat-el-Khilemilsh]
fecha o [mais estranho ainda] Quinto Capítulo do Mito do Eterno Retorno de Mircea Eliade. [De fato, menções a esta congregação
constam em duas ou três notas no capítulo XV do Decline And Fall de Gibbon].
Segundo o sábio romeno tal religião
supera certos concorrentes seus na mesma época. As estimativas mais modestas põem
entre meio e um milhão os que se reuniam para beijar e agradecer a chaves
rituais, enquanto no mesmo período os seguidores do profeta hebreu não passavam
de doze [que ficariam famosíssimos, mas ainda assim, só doze], o homem de Meca
não possuía nenhum e os judeus não juntavam mais de trezentos milhares.
E nem no ponto de vista teológico
tal seita é passível de excessivas críticas [e aqui é Gibbon quem fala]: que
mais lógico [diz o inglês abdicando momentaneamente da ironia] que adorar uma
chave? Afinal as chaves separam e unem: o jardim da sala, a sala do quarto, o
exterior e interior, o céu e a terra, o Paraíso e o Outro Lado. E, com o uso da
chave certa, pode-se passar de um lugar desagradável para outro talvez menos.
A simpatia dos historiadores não
impediu a Seita de sumir, sufocada pelas suas inicialmente modestas
competidoras. Ainda existem aqueles que têm fé, e se reúnem ajoelhando-se diante
de chaves, pedindo-lhes para lhes abrirem os portões da felicidade. Um rumor de
que possuiriam salões secretos em vários continentes revelou-se infundado.
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