O Impopular
Ninguém nasce nem morre só – diz o ditado amhitariano. Esta tradição
seria quebrada [não sem impiedade] hoje em 1841, quando Feruza Otabek deu sua
entrada no cemitério além-dos-muros da capital Shmaerkhaent. Dois testemunhos
afirmam que, além dos funcionários do cemitério, um cãozinho Lulu marcou
presença na rápida cerimônia.
Feruza [o feroz panfletista
Feruza] não deixou de dar razões que [se não justificam] ao menos tornam menos incompreensível
seu pequeno nível de amigos. Era sincero – até os adversários o reconheciam. Porém
o Homem Mais Impopular do País [e não
desgostava do apelido] parecia procurar motivos que aumentassem ainda mais a
fama.
Inimigo do álcool numa terra de fanáticos
da cerveja preta [a festejada Shiibatz],
pacifista quando todos se orgulhavam de um tio-avô degolador, vegetariano no país
que alegava ter criado o churrasco de iaque, adepto dos namoros castos quando o
prêmio de toda família era ter um filho Don Juan, não havia movimento impopular
que o jornalista não abraçasse. [Curiosamente o nacionalismo e o liberalismo
contra os paxás opressores, causas que (embora perigosas) não deixavam de
arrastar multidões ocultas, nunca lhe fizeram a cabeça]. Feruza acostumou-se a
andar sozinho na rua [exceto pelos garotos que o vaiavam].
Como tudo, da sua morte há uma
visão revisionista: o cachorrinho seria a alma do povo, arrependido de tanta
incompreensão. Embora bela e nobre, tal [piedosa] versão só é aceita em círculos
mais espirituais.
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