quinta-feira, 28 de novembro de 2013

28 de Novembro

O cheiro do Comum Lugar

O país não se orgulha de sua indústria perfumista [o que não deixa de surpreender, já que os patriotas amhitarianos (dizem os vizinhos Kazaks) se orgulham de (quase) tudo]. De fato, excetuando um opúsculo [depois renegado] do historiador Java Khalilah e duas notas pagas da Academia do Delírio publicadas hoje em 1906, nada se pode encontrar sobre as fábricas de odores em Amhitar.

O conformismo [ou um compreensível horror a ele] explicam tudo [é o que dizem]. A indústria perfumista [em todo o mundo] busca uma radical transformação do lugar-comum: cheira-se o que não se cheiraria normalmente – em um escritório ou em uma festa familiar desprovida de qualquer vestígio de graça podem vir à tona [através de alguma essência importada] flores de picos de montanhas da China ou de folhas que só possuem aquele odor na beira de certo lago na Tanzânia.

Em Amhitar [ao contrário] os perfumes encarnam o dia a dia: pequenas flores de terrenos baldios [não exatamente prodígios de cor e forma] são maceradas e usadas por pessoas que moram ao lado dos tais terrenos. [As ervas daninhas têm o mesmo destino e aplicação].

Dizem até que alguém [para escândalo dos puristas] transformou o suor em perfume [embora o olvido e a vergonha sufoquem esse assunto]. A indústria perfumista nacional talvez por esse motivo [exceto por três laboratórios artesanais nos subúrbios de Smaarkhaat] sumiu – pois ninguém [dizem] quer ter o odor da banalidade.

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