sexta-feira, 31 de maio de 2013

31 de Maio

Os Terríveis Nós

Maus e Solitários sacudiu a lagoa parada que era o Rádio amhitariano hoje em 1927. Dildora Motley [inevitavelmente] autorou essa primeira radionovela, avó da sua neta sete mais destrutiva, a telenovela, e se sagrou o pioneiro mundial [não reconhecido] de tal gênero vagabundo [o adjetivo (segundo quem o conheceu) não o teria desagradado].

O Menino Terrível da literatura amhitariana não tinha publicado nenhum livro [e nem o faria nunca, pois considerava que a indústria editorial transformava os escritos em banalidade] – como [acrescentava o autor] toda indústria fazia.

Maus e Solitários começava com gente normal [famílias normais, mães, namorados e cachorros normais] e continuava como tal. Já no terceiro capítulo a inveja disfarçada, a alegria da desgraça alheia, a coragem diante dos fracos e a pusilanimidade diante dos poderosos cobriam a trama dos costumeiros assassinatos e casamentos [a essência de toda novela] com uma leve pátina como sujeira velha. Maus e solitários não eram os membros das duas poderosas famílias de Shamaerkhant que disputavam o controle da cidade – éramos nós, os terríveis nós – berrava Dildora.

Demitido após o 33º capítulo, o autor conheceu breve glória depois da consolidação do Partido Soviético do Uzbequistão, que acreditava que sua crítica se destinava à família pequeno-burguesa. Sua segunda novela afirmou no entanto que a má-solitude não conhecia fronteiras ideológicas, e perdeu o emprego uma segunda vez.

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