quinta-feira, 4 de julho de 2013

04 de julho

O Dia Nacional do que não há

O Secretário-Geral do Partido abriu hoje em 1936 o Congresso Mundial e Universal das Inexistências recusando-se a desejar boa sorte aos participantes, pois isso de boa sorte é uma realidade não-existente e as realidades não-existentes são proibidas.

O Congresso não teve origem na megalomania mas na fraqueza. Um relatório secreto [logo vazado para o público] do Comitê Central revelara que uma parcela não pequena da população acreditava em coisas que não se podem ver nem tocar, tornando-se premente uma ação para combater este surto de não-objetividade.

Na tribuna sucederam-se matemáticos, especialistas em embalagem, técnicos em resistência de materiais, fisioterapeutas, engenheiros de locomotiva e uma pletora de profissionais acostumados à dureza do mundo e do ferro. Os títulos das palestras variaram de Por que o lobisomem é um mito; Malefícios de se contar tolices sobre Cinderela para as meninas; Desejar Boa Viagem é um desserviço; Como deixar de colocar vassouras atrás de portas para se livrar de visitas importunas além das inevitáveis Do não-realismo de qualquer divindade e Por que não existe nada que não se possa ver, exceção feita ao vento.

Nove dias depois uma chuva de aplausos marcou o fim do congresso. O único senão [dizem] foi que, ao sair, uma autoridade olhou as nuvens cinza e falou Talvez tenhamos boa sorte e não chova.

- Tomara mesmo – disse outro e bateu três vezes na madeira.

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