As trevas se dissiparam velozmente,
ao menos no bravo torrão amhitariano. Às 15 horas e 37 minutos do dia de hoje
em 1844 a ignorância e a superstição dominavam o espectro – e 60 segundos
depois [se tanto] a luz e a ciência seu imarcescível
reino haviam estabelecido. [Ao menos esta foi a visão dos cinco primeiros médicos
diplomados de Amhitar, chegados trinta e três horas e treze minutos antes na
mesma caravana, todos formados na Universidade de Dacca].
Os esculápios [casaca, cartola e todo
o conhecer científico] principiaram guerra de extermínio contra curandeiros,
parteiras, barbeiros e vovós sabidas e para tanto fundaram neste minuto preciso
a Sociedade Médica de Ahmitar. Em
pouco tempo os chás e infusões caseiras haviam sido proibidos, duas dúzias de
velhos raizeiros curtiam pena na cadeia e os novos donos do saber brigavam
entre si. Dois deles [com o influxo de três residentes recém-chegados] romperam
com os outros e fundaram o Sodalício dos
Doutores Objetivos.
As causas de discordância entre
os médicos seguem obscuras, conhecendo-se apenas os insultos que trocavam: Passadistas! Místicos! Crentes em realidades
não-objetivas! e a principal delas: Corifeus
de uma divindade imaginária! – para os médicos [todos] o ateísmo era questão
não só de ciência como de fé. [A principal praga que rogavam uns contra os
outros – quando você estiver morrendo, vai
rezar! – nunca pôde ser comprovada, por falta de registros de últimas
palavras].
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