terça-feira, 16 de julho de 2013

16 de julho

Os sábios

As trevas se dissiparam velozmente, ao menos no bravo torrão amhitariano. Às 15 horas e 37 minutos do dia de hoje em 1844 a ignorância e a superstição dominavam o espectro – e 60 segundos depois [se tanto] a luz e a ciência seu imarcescível reino haviam estabelecido. [Ao menos esta foi a visão dos cinco primeiros médicos diplomados de Amhitar, chegados trinta e três horas e treze minutos antes na mesma caravana, todos formados na Universidade de Dacca].

Os esculápios [casaca, cartola e todo o conhecer científico] principiaram guerra de extermínio contra curandeiros, parteiras, barbeiros e vovós sabidas e para tanto fundaram neste minuto preciso a Sociedade Médica de Ahmitar. Em pouco tempo os chás e infusões caseiras haviam sido proibidos, duas dúzias de velhos raizeiros curtiam pena na cadeia e os novos donos do saber brigavam entre si. Dois deles [com o influxo de três residentes recém-chegados] romperam com os outros e fundaram o Sodalício dos Doutores Objetivos.

As causas de discordância entre os médicos seguem obscuras, conhecendo-se apenas os insultos que trocavam: Passadistas! Místicos! Crentes em realidades não-objetivas! e a principal delas: Corifeus de uma divindade imaginária! – para os médicos [todos] o ateísmo era questão não só de ciência como de fé. [A principal praga que rogavam uns contra os outros – quando você estiver morrendo, vai rezar! – nunca pôde ser comprovada, por falta de registros de últimas palavras].

Nenhum comentário:

Postar um comentário