terça-feira, 9 de julho de 2013

09 de julho

As cavernas sem graça

Até mesmo o romântico historiador Dilafruz Michelet [em raro rompante de mau humor] disse que as cavernas de Chalkad [a seis milhas da cidade santa de Uchkuduk] representavam um caminho de ouro para os materialistas de Amhitar.

Não por coincidência foi o objetivo Iusya Marzhaffar quem denunciou as velhas lendas sobre as cavernas: de que atravessavam o mundo e chegavam às Ilhas Seychelles e morenas virgens esperavam o bravo que fizesse a travessia; que tal caverna inspirara a travessia de certos Dante e Virgílio ao centro da terra, e que o primeiro devia levar um processo por plágio; que sete Paraísos [o cristão, o muçulmano, o judeu, o confuciano além de três menores] se situavam no seu centro – e outros entusiasticamente abraçados por patriotas e românticos.

Para sua ira coletiva Iusya destrinchou como cada uma dessas lendas surgira em uma época diferente; que cada uma tinha como base um escrito por sua vez sem base nenhuma; que nem mesmo tais lendas eram originais (faz troça da pretensa crítica ao poeta florentino).

As evidências [coletadas depois em três expedições, a última delas em 1999] parecem dar razão aos [aborrecidos] materialistas. Longe de ser um lugar mágico de Ali-babá, a caverna parece ser bem monótona. Quanto ao seu fundo, não deságua em nenhum lugar de sonho – e sim dá uma volta e retorna para o ponto de partida. Um final deveras pós-moderno – afirmou A Academia do Passado Inexistente, inevitavelmente pós-moderna.

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