terça-feira, 23 de julho de 2013

23 de julho

O de longe

Os 16 testemunhos que chegaram até hoje atestam de forma [quase] unânime que Ele veio de longe. Uma carreta da rota da seda veio e partiu e deixou [compreensivelmente] dois fardos de finíssima seda verde e um Homem. [As barbas brancas até a barriga não deixavam de impor respeito]. Trazia três arcas – uma delas com pedaços de pau pregados em perpendicular, a outra com roupas que deixavam claro que ele, se era, não fora um qualquer, e [segundo apenas dois dos testemunhos quase certamente fantasiosos] uma terceira com gafanhotos fritos, o seu lanche.

Abriu a boca [uma pequena multidão em semicírculo] e berrou: Maria não é Mãe de Deus! É apenas Mãe de Jesus! Com isso detonou uma peroração que dar-lhe o título de Theotokos (Mãe de Deus) era uma concessão ao paganismo, uma imitação das famílias dos falsos Zeuses.

Ninguém entendeu nada [apesar de um rapazinho ao seu lado que traduzia tudo para o protodialeto Bakhmar]. Furioso com a indiferença rogou nove pragas sobre aquela gente increia e partiu com suas arcas - metade dos testemunhos diz que para o Oriente, o resto para o lado oposto.

Uma dúzia de séculos se passou antes que os jesuítas [que só se referiam a ele fazendo o sinal-da-cruz] sussurrassem que aquele era Nestório, um amaldiçoado herético, e que foi a Mãe de Deus que o impediu de converter a gente da terra de Amhitar [o que não adiantou muito, pois a verdadeira fé (supostamente a dos jesuítas) também não teve muito sucesso].

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