domingo, 5 de maio de 2013

05 de Maio

Delicados
Hoje em 1898 [em uma ruptura que só mais tarde seria reconhecida como tal] a poetisa Iroshka Maruf publicou em um bazar de gatos de porcelana o Dicionário de Delicadezas. [Tudo se fazia significativo nessa obra, desde o lugar de lançamento (de maneira alguma fortuito) até o número de exemplares (222 que, pela grande procura, a autora permitiu que fosse aumentado para 2222, pois o número 2 (claro água) era seu número favorito.]

Mesmo o ateu Serguei Kovinev [que não pode ser considerado fã de uma poetisa intimista] tonitroa que assassinatos, julgamentos, inundações, guerras [e até sete Arnmegedons destruidores da Galáxia] porejavam a literatura amhitariana, a qual se orgulhava de ser Uma Literatura de Grandes Coisas. Esta jovem que laborava joias de palavras sobre um pingo de chuva nadando em um copo d´água [um de seus poemas mais declamados] ou cartas a um estranho que me ama sem eu nunca tê-lo conhecido trouxe a arte das palavras ao rés do chão, ao miolo da vida, ao pote de barro dos qual são feitas a coisas.

Detestada pelos anarquistas e pela polícia do Czar [que desconfiava dela algo que nem sabia definir] a escritora foi canonizada pela república soviética [traidora] do Uzbequistão [como símbolo de resistência pátria ao invasor inimigo] e pelos neoliberais dos anos 1990 [como mártir da liberdade do pensamento, irmã da liberdade de abrir shopping-centers]. Ignora-se até que ponto esses seus tardios fãs leram suas poesias sobre bolas de lã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário