Delicados
Hoje em 1898 [em uma ruptura que só mais tarde seria reconhecida
como tal] a poetisa Iroshka Maruf publicou em um bazar de gatos de
porcelana o Dicionário de Delicadezas. [Tudo
se fazia significativo nessa obra, desde o lugar de lançamento (de
maneira alguma fortuito) até o número de exemplares (222 que, pela
grande procura, a autora permitiu que fosse aumentado para 2222, pois
o número 2 (claro água) era
seu número favorito.]
Mesmo o ateu Serguei Kovinev [que
não pode ser considerado fã de uma poetisa intimista]
tonitroa que
assassinatos, julgamentos, inundações, guerras [e até
sete Arnmegedons destruidores da Galáxia] porejavam
a literatura amhitariana, a qual se orgulhava de ser Uma Literatura
de Grandes Coisas. Esta jovem que laborava joias de palavras sobre
um pingo de chuva nadando em um copo d´água [um
de seus poemas mais declamados] ou cartas a um estranho que
me ama sem eu nunca tê-lo conhecido
trouxe a arte das palavras ao rés do chão, ao miolo da vida, ao
pote de barro dos qual são feitas a coisas.
Detestada pelos anarquistas e pela
polícia do Czar [que desconfiava dela algo que nem sabia definir] a
escritora foi canonizada pela república soviética [traidora] do
Uzbequistão [como símbolo de resistência pátria ao invasor
inimigo] e pelos neoliberais dos anos 1990 [como mártir da liberdade
do pensamento, irmã da liberdade de abrir shopping-centers].
Ignora-se até que ponto esses
seus tardios fãs leram suas poesias sobre bolas de lã.
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