O [relativamente pequeno]
interesse pelos imortais da literatura em Amhitar tem sido atribuído [não sem
certa injustiça] a um homem só. Akrom Sardor [velhinho, sorriso e pince-nez]
publicou hoje em 1871 as suas Confissões
de um Mestre-Escola, mais conhecidas pelo subtítulo Yuduurhmar-al-Aksuraathim, geralmente traduzido em línguas
ocidentais como As memoráveis obras não são
por demais interessantes. Uma tradução menos cavalheiresca porém mais real
[dizem] é: Os Clássicos São Um Saco!
Não pede licença: Conhece o leitor aquela passagem na qual Ulisses chega numa ilha, mata todos os homens
de lá e divide as mulheres e crianças como escravos entre seus soldados e é
louvado por sua justiça? Esse Homero era
um sádico! E o Cícero, e esses advogados romanos chatos! Aprender latim para
ler uma xaropada dessas? E aquele Agostinho, moralistão sádico defendendo os
crimes de sua igreja? Pior só o tal Santo Tomás, outro cínico. E Aristóteles! Existe
alguém que escreva de maneira mais aborrecida? E as tragédias gregas? Antígona
abraçada ao cadáver fedentino do irmão, rárá! Que lindo! E o chato carola do
Pascal! Um trapo! Este livro, caro leitor, visa a libertá-lo de ler esses sádicos
aborrecidos, os clássicos!
Causador de duplos sentimentos,
os intelectuais de Amhitar em geral trombeteiam que estava errado o professor
[embora alguns doses de vinho os façam confessar que Cícero e os outros são veramente
insuportáveis (ou um saco, como diz a
tradução)].
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