quarta-feira, 22 de maio de 2013

22 de Maio

A segunda morte de Iqbol Chavkat


Somente o tédio me domina” – disse [baixinho] o General Chavkat três milionésimos de segundo antes de a bala se alojar no seu globo ocular esquerdo [sendo inexplicável como o relato de suas últimas (e pós-últimas) palavras foi tão pouco questionado desde que foi encontrado em uma pilha de folhas secas e ferro retorcido no dia de hoje em 1920, 113 dias depois].

Iqbol Chavkat conseguira a glória do poder. Em um dia percebeu que todos os sorrisos, filés com champignon e macias coxas femininas eram dele – a um estalo de dedos. Esse dia de êxtase se estendeu por mais outro. E outro mais. E foi seguido por um quarto dia. Até o décimo-nono. No vigésimo os mesmos soldados que o tinham posto no cargo o amarraram a um poste e se alinharam esperando uma ordem de fogo.

Somente o tédio me domina” – pensou o ex-Presidente de Amhitar e além da dor de cabeça, nada aconteceu. Os tolos gritos de soldados para desfazer o pelotão, os recrutas a limpar o solo. Ele se viu livre, ninguém lhe dava importância. Não sabia se vivia. Pouco importava [podia mover-se]. Saiu por três dias. E ninguém lhe dirigiu a palavra. Alguém o fez no fim do dia, um improvável emissário do diabo – um limpador de ruas. Este lhe confirmou as más notícias.

Chavkat contestou:

- Não estou morto. Estou só.

O pouco dramático mensageiro disse:

- É o mesmo – e ao contrário do que acontece nos contos fantásticos, não desapareceu.

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