“Somente o tédio me domina” – disse [baixinho] o General Chavkat
três milionésimos de segundo antes de a bala se alojar no seu globo ocular
esquerdo [sendo inexplicável como o relato de suas últimas (e pós-últimas)
palavras foi tão pouco questionado desde que foi encontrado em uma pilha de
folhas secas e ferro retorcido no dia de hoje em 1920, 113 dias depois].
Iqbol Chavkat conseguira a glória
do poder. Em um dia percebeu que todos os sorrisos, filés com champignon e
macias coxas femininas eram dele – a um estalo de dedos. Esse dia de êxtase se
estendeu por mais outro. E outro mais. E foi seguido por um quarto dia. Até o
décimo-nono. No vigésimo os mesmos soldados que o tinham posto no cargo o
amarraram a um poste e se alinharam esperando uma ordem de fogo.
“Somente o tédio me domina” – pensou o ex-Presidente de Amhitar e
além da dor de cabeça, nada aconteceu. Os tolos gritos de soldados para
desfazer o pelotão, os recrutas a limpar o solo. Ele se viu livre, ninguém lhe
dava importância. Não sabia se vivia. Pouco importava [podia mover-se]. Saiu
por três dias. E ninguém lhe dirigiu a palavra. Alguém o fez no fim do dia, um
improvável emissário do diabo – um limpador de ruas. Este lhe confirmou as más
notícias.
Chavkat contestou:
- Não estou morto. Estou só.
O pouco dramático mensageiro disse:
- É o mesmo – e ao contrário do que acontece nos contos fantásticos,
não desapareceu.
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