quinta-feira, 30 de maio de 2013

30 de Maio

Santa Indiferença

Os jesuítas alemães Christopher Wasserhahn, Friedrich Waschbecken e Gerhardt Küchenspüle pagaram dois dinares ao garoto que manejava o barco que atravessava o Syr-Daria e penetraram em território amhitariano ao meio-dia e sete minutos do dia 30 de maio de 1611. [Mediram rigorosamente o horário do histórico momento].

Previam a pregação em mercados lotados – alguns aceitariam e começariam a falar latim – soldados de cara amarela os cercariam – um potentado pagão os julgaria – desmoralizariam os deuses locais em um debate teológico – o potentado mandaria queimá-los – o Papa saberia – seriam santos.

Não havia mercados na outra margem. Nem cidade. Andaram dias na poeira. Quando acharam uma, ficaram felizes com a atenção da plateia – até que viram que o mesmo interesse era dado também a um mercador que alardeava suas panelas. Exigiram ver um chefe local. Ameaçaram-no com o Inferno. Ele lhes deu horríveis pães de casaca de cevada e passou a escutar um menestrel de canções obscenas. Ninguém discutia, ameaçava, defendia sua fé pagã. Apenas sorriam e viviam como sempre.

Desanimados recruzaram o Syr-Daria uns sete meses depois [não tiveram ânimo de anotar o momento preciso]. Um deles tentou consolar dizendo que os amhitarianos ao menos são indiferentes à palavra e não a cumprem. Melhor que os povos de Deus na Europa, que se entusiasmam com ela e não a cumprem mas nem isso teve grande efeito animador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário