Abdullaeva Behruz [dizem] falava
7.777 línguas [a estimativa patina dos 11.112 do eufórico amador-de-heróis
historiador Java Kharlilah aos sóbrios 444 do seu contemporâneo (e rival) o
materialista Iusya Marzhaffar]. Menos interessante é a primeira fase de seu
aprendizado, a qual [segundo as histórias de esquina] tomou meio século e 88
dias e o fez aprender desde os costumeiros grego-dórico, latim-etrusco e sânscrito
[na variedade cuneiforme] a línguas realmente estranhas como o Samovedanta, a qual
[dizem] possuía apenas uma palavra [com 59.997 conotações diferentes] até o Morrábico
[que não possuiria nenhuma, ou ao menos nenhuma isolada].
A segunda [e plenamente
misteriosa] fase de sua vida teria sido uma consequência [perfeitamente lógica
e totalmente inesperada] da primeira: tendo aprendido as línguas dos homens [e
por nada ter a fazer tendo pensado seriamente em dar cabo de sua vida] o linguista
na margem do lago Sarygamish ouviu uma conversa a qual entendia [compreensivelmente
falavam de alpiste]. Abdullaeva descobriu então que compreendia a linguagem dos
pássaros. E das cobras e dos ratos, e até das folhas secas.
As pessoas o
cercavam. Perguntavam do que falavam os bichos. Abdullaeva terminava por se
irritar e berrava que Os animais são tão
vulgares quanto vocês, o que em nada ajudava sua popularidade. Quanto ao
seu talento, nunca o passou para ninguém. É
inútil entender essas conversas tolas – dizia ele, e sua popularidade afundava
mais um ponto.
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