quinta-feira, 16 de maio de 2013

16 de Maio

Línguas


Abdullaeva Behruz [dizem] falava 7.777 línguas [a estimativa patina dos 11.112 do eufórico amador-de-heróis historiador Java Kharlilah aos sóbrios 444 do seu contemporâneo (e rival) o materialista Iusya Marzhaffar]. Menos interessante é a primeira fase de seu aprendizado, a qual [segundo as histórias de esquina] tomou meio século e 88 dias e o fez aprender desde os costumeiros grego-dórico, latim-etrusco e sânscrito [na variedade cuneiforme] a línguas realmente estranhas como o Samovedanta, a qual [dizem] possuía apenas uma palavra [com 59.997 conotações diferentes] até o Morrábico [que não possuiria nenhuma, ou ao menos nenhuma isolada].

A segunda [e plenamente misteriosa] fase de sua vida teria sido uma consequência [perfeitamente lógica e totalmente inesperada] da primeira: tendo aprendido as línguas dos homens [e por nada ter a fazer tendo pensado seriamente em dar cabo de sua vida] o linguista na margem do lago Sarygamish ouviu uma conversa a qual entendia [compreensivelmente falavam de alpiste]. Abdullaeva descobriu então que compreendia a linguagem dos pássaros. E das cobras e dos ratos, e até das folhas secas.

As pessoas o cercavam. Perguntavam do que falavam os bichos. Abdullaeva terminava por se irritar e berrava que Os animais são tão vulgares quanto vocês, o que em nada ajudava sua popularidade. Quanto ao seu talento, nunca o passou para ninguém. É inútil entender essas conversas tolas – dizia ele, e sua popularidade afundava mais um ponto.

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