A capital dos amhitares tem mil
nomes [a versão de que teria 999 tendo sido há muito descartada como fruto de
um excessivo amor à simetria numerológica]. As duplicações de vogais e a
colocação ou subtração de consoantes mudas geraram versões poéticas [ou não]
como Shamaerkhant, Samaarkand, Shmarkaent sobre as quais as escolas de
linguistas e historiadores traçaram disputas em que o desejo de atingir à
verdade histórica não poucas vezes se mesclou à vaidade. [O Governo de Ocupação
Czarista do Turquestão Ocidental em um gesto (pretensamente) conciliatório em
1875 declarou este o Dia em que se comemorariam todos os nomes sem
desigualdades. Tal ação caiu no vazio.]
Um artigo de duas colunas e meia
na [semiclandestina] Gazeta de Amhitar,
edição da última semana de 1892, lançou célebre versão destinada a eliminar a
controvérsia [e que na verdade apenas ajuntou gasolina à fogueira]: não haveria
mil nomes – e sim mil cidades. Uma delas tolamente conhecida como Samarcanda –
as demais, espalhadas por oásis e beiras de rios e fundos de lagos [pois nem
todas seriam cidades vivas], pelos desejos e pelas imaginações das pessoas, o
que não a faria menos reais.
A beleza fantástica da versão [e
o fato de seu autor/a permanecer anônimo] a fizeram a favorita dos poetas. A
Liga dos Arqueólogos no entanto considerou inviável escavar por mil cidades,
parte delas talvez só existente em imaginações, e descartou a hipótese por Excesso de desvario imaginativo.
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