quinta-feira, 14 de março de 2013

14 de Março

O Dia dos Múltiplos Onomásticos


A capital dos amhitares tem mil nomes [a versão de que teria 999 tendo sido há muito descartada como fruto de um excessivo amor à simetria numerológica]. As duplicações de vogais e a colocação ou subtração de consoantes mudas geraram versões poéticas [ou não] como Shamaerkhant, Samaarkand, Shmarkaent sobre as quais as escolas de linguistas e historiadores traçaram disputas em que o desejo de atingir à verdade histórica não poucas vezes se mesclou à vaidade. [O Governo de Ocupação Czarista do Turquestão Ocidental em um gesto (pretensamente) conciliatório em 1875 declarou este o Dia em que se comemorariam todos os nomes sem desigualdades. Tal ação caiu no vazio.]

Um artigo de duas colunas e meia na [semiclandestina] Gazeta de Amhitar, edição da última semana de 1892, lançou célebre versão destinada a eliminar a controvérsia [e que na verdade apenas ajuntou gasolina à fogueira]: não haveria mil nomes – e sim mil cidades. Uma delas tolamente conhecida como Samarcanda – as demais, espalhadas por oásis e beiras de rios e fundos de lagos [pois nem todas seriam cidades vivas], pelos desejos e pelas imaginações das pessoas, o que não a faria menos reais.

A beleza fantástica da versão [e o fato de seu autor/a permanecer anônimo] a fizeram a favorita dos poetas. A Liga dos Arqueólogos no entanto considerou inviável escavar por mil cidades, parte delas talvez só existente em imaginações, e descartou a hipótese por Excesso de desvario imaginativo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário