terça-feira, 19 de março de 2013

19 de Março

As Planuras da Alma


Os 99 desertos de Amhitar não seriam na verdade 99. [O geógrafo soviético materialista Serguei Mikhailovitch Kovinev considerou que este número era uma insuportável analogia com os 99 nomes de Deus na tradição do Islã e propôs – baseado em tolas curvas barométricas – que seriam apenas quatro. Tal proposta – em parte por sua assustadora banalidade – não deixou de cair no esquecimento.]

Esta pode ser considerada a segunda mais acirrada discordância numérica na historiografia de Amhitar [sendo a primeira o número de concubinas do Sultão Mahmoud Al-Halim]. Já mencionado em sete relatos anteriores, o número de 99 estabeleceu-se com o texto atribuído [segundo alguns falsamente] ao andarilho Dasha Ulugbek no século XII [calendário herético], o qual a tradição diz que foi publicado hoje.

No terceiro rolo Dasha afirma que depois de 499 dias de caminhada e de subir 333 platôs o explorador deparava com

...uma planura que esmaga a alma, mais ainda, que a rouba – mais que uma planura, são 99 delas – sem pássaros nem paz nem pão.

Tal descrição, mais poética que geográfica, não deixou de ocasionar uma nota [anônima] no Almanaque da Nossa Pátria, edição de 1900, segundo a qual Dasha se referia à solidão do Homem que não resolveu seus conflitos. Tal explicação, assim como a de Kovinev, também foi logo esquecida, possivelmente também por sua banalidade, embora diversa. A Sociedade Psicanalítica do Uzbequistão procura recuperá-la, com sucesso limitado.

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