Iroshka Maruf [a poetisa]
desapareceu hoje [uma noite tempestuosa] em um dos dois únicos penhascos à
borda do lago Sarygamysh [o fato de existir outro penhasco não é irrelevante]
com a idade de dezessete anos e dezessete dias [uma coincidência que não deixou
de provocar misticismos numéricos] no ano 1900. Seus pais, avós, as três únicas
amigas e mil e duzentos apaixonados por poesia que amavam seus livrinhos O Dicionário das Delicadezas, És meu deus e
meu daimon e Gatinhos de doce
porcelana a choraram como se morrera [e de fato a polícia política czarista
ordenou que se a considerasse morta para evitar qualquer outra conotação ao
evento].
Iroshka desde os onze anos postava
cartas, das quais metade para si mesma e o restante para alguém que nunca se
soube [apesar das hipóteses a respeito]. Seus sonetos falavam de amores tão belos que é melhor que nem existam,
e de Almas gêmeas próximas e distantes
como em labirinto.
No dia em que desapareceu Iroshka
acariciou duas vezes seu cachorrinho, soprou um beijo para sua avó paterna [minha fada de óculos] e deixou sobre a
mesa uma frase Eu te amo eu te amo boa
noite. Três pescadores afirmaram tê-la visto sobre o penhasco contra a luz
dos relâmpagos, estendendo os braços. Sobre o outro penhasco, outra figura, um
belo jovem, olhando-a como em alegria melancólica de tão grande. Isso não
deixou de adicionar adoração à memória da jovem poetisa.
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