quarta-feira, 27 de março de 2013

27 de Março

Eu te amo boa noite


Iroshka Maruf [a poetisa] desapareceu hoje [uma noite tempestuosa] em um dos dois únicos penhascos à borda do lago Sarygamysh [o fato de existir outro penhasco não é irrelevante] com a idade de dezessete anos e dezessete dias [uma coincidência que não deixou de provocar misticismos numéricos] no ano 1900. Seus pais, avós, as três únicas amigas e mil e duzentos apaixonados por poesia que amavam seus livrinhos O Dicionário das Delicadezas, És meu deus e meu daimon e Gatinhos de doce porcelana a choraram como se morrera [e de fato a polícia política czarista ordenou que se a considerasse morta para evitar qualquer outra conotação ao evento].

Iroshka desde os onze anos postava cartas, das quais metade para si mesma e o restante para alguém que nunca se soube [apesar das hipóteses a respeito]. Seus sonetos falavam de amores tão belos que é melhor que nem existam, e de Almas gêmeas próximas e distantes como em labirinto.

No dia em que desapareceu Iroshka acariciou duas vezes seu cachorrinho, soprou um beijo para sua avó paterna [minha fada de óculos] e deixou sobre a mesa uma frase Eu te amo eu te amo boa noite. Três pescadores afirmaram tê-la visto sobre o penhasco contra a luz dos relâmpagos, estendendo os braços. Sobre o outro penhasco, outra figura, um belo jovem, olhando-a como em alegria melancólica de tão grande. Isso não deixou de adicionar adoração à memória da jovem poetisa.

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