quinta-feira, 28 de março de 2013

28 de Março

A Água de Deus


O professor de história Dilafruz Michelet publicou em 1881 o opúsculo A mais bela das histórias de Amhitar. [Inexplicavelmente não é a data de sua publicação que se rememora hoje e sim a da obra contrária A mais patética das histórias, do também historiador (e rabugento) Iusya Marzhaffar].

Dilafruz reivindica a bebida de deuses e guerreiros, o vinho. Argumenta oceanograficamente: supondo-se que [em uma enchente que cobrisse todas as terras] as correntes oceânicas se comportariam de maneira mais ou menos igual, é impossível que a arca de Noé tivesse levado 40 dias apenas para cobrir a minúscula distância da Mesopotâmia ao monte Ararat. O estudo das correntes elimina qualquer outra direção que não Amhitar – na qual a famosa barca teria tocado terra.

Assim, o [vergonhoso] episódio em que os filhos de Noé o embebedam ocorreu em terras amhitarianas [Dilafruz arrisca três províncias candidatas ao acontecimento]. O vinho seria  invenção própria, depois injustamente tomada por outros, uma injustiça que o autor se dispõe a retificar.

Iusya rebate com três argumentos: não havia [em 1881] produção vinícola no país; escavações arqueológicas não detectavam a presença de uvas antes do ano 800 dos hereges [um argumento facilmente contrariável pois há vinhos que não de uvas]; e, principalmente, Deus não existe. Se não existe, não podia haver Dilúvio. Sem Dilúvio, sem Noé; sem Noé, sem vinho em Amhitar. Tal argumento obviamente não logrou convencer a muitos.

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