domingo, 31 de março de 2013

31 de Março


Menino sem idade

Em tempos ásperos viveu Shahnoza Birame e aos vinte e sete anos não se classificava precisamente como menino. [Naquele 31 de março de 1865 (dia 4 do mês Rabi) Shamarkaent coalhava de boatos. Um país (a Rússia) regurgitava de escritores (Dostoievski e Tolstoi produziam amores e crimes a toda) e de regimentos prontos a invadir].

Nesse [péssimo] momento o [cabelos arrepiados e cara de gente-feliz] Shahnoza tomou algo parecido com uma viola e no Mercado do Centro [com 45 ou 200 crianças em volta, os testemunhos variam] começou a cantar “Bom dia, bom dia, como vai?/ Bom dia, bom dia, como vai?/ Feliz de estar aqui/ Feliz de estar aqui/ com meus pequenos amigos!”

Crianças significavam então arados para os hectares engolidores de braços. Shahnoza cantava como se essa idade fosse uma época especial, em que a brincadeira precede até mesmo a colheita. [Muito posteriormente] foi considerado o Precursor da Literatura Infantil em Amhitar, pomposo título para o qual talvez vomitasse.

A Milícia considerou que aquelas canções não podiam ser só aquilo – devia haver alguma mensagem secreta, espionagem para Moscou. Quanto aos pró-russos [eles existiam, em semi-segredo] acharam que aquelas bobices distraíam o povo das graves transformações que adviriam com a chegada dos civilizadores. Shahnoza foi proibido e terminou seus dias muito depois cantando cançõezinhas para seus três cachorros e cinco gatos – dizem que os bichos dançavam no ritmo, mas talvez seja lenda.

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