sexta-feira, 29 de março de 2013

29 de Março

O Incorruptível


Munisa Gulshoda não deixou livros ou palestras [Tudo o que sabemos dele veio de três depoimentos no mensário O Novo Turquestão, publicados hoje em 1949]. Das suas palavras claudicantes [os tiros e a bebida deixaram sua assinatura] emerge a Samahkhant pós-Primeira Guerra – que deixara seu [pretenso] charme oriental [ninguém esperava mais ver Aladim ou tapetes voadores] para se transformar em cidade moderna: trabalhadores e bondes de dia e de noite o bairro podre, cigarros e contrabando, cafetões e prostitutas.

Incorruptível, o [então] belo Munisa [o nome era um pseudônimo, homenagem a um detetive anterior] teve [não poucas] noites de amor com morenas estonteantes de cabelo curto e cigarro com piteira que se revelarem espiãs dos gangsters que se sentiam incomodados com sua interferência. [Munisa recuperava cargas roubadas, desfazia sequestros e devolvia às mães filhas amalucadas que achavam romântica a vida com bookmakers]. Isso deu a ele não poucos inimigos e não menos marcas de longas unhadas, tanto das garotas que resistiam ser levadas à força para casa como de paixão em momentos sexies [além, é claro, das temporadas em hospitais depois de tiros].

Um filme e dois livros pretensamente biográficos romantizaram a figura do detetive. Ao morrer deixou conselho: os tiras roubam e as mulheres mentem, não sejam detetives. Isso, é claro, apenas acresceu charme à sua legenda.

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