Munisa Gulshoda não deixou livros
ou palestras [Tudo o que sabemos dele veio de três depoimentos no mensário O Novo Turquestão, publicados hoje em
1949]. Das suas palavras claudicantes
[os tiros e a bebida deixaram sua assinatura] emerge a Samahkhant pós-Primeira
Guerra – que deixara seu [pretenso] charme oriental [ninguém esperava mais ver
Aladim ou tapetes voadores] para se transformar em cidade moderna: trabalhadores
e bondes de dia e de noite o bairro podre, cigarros e contrabando, cafetões e
prostitutas.
Incorruptível, o [então] belo
Munisa [o nome era um pseudônimo, homenagem a um detetive anterior] teve [não
poucas] noites de amor com morenas estonteantes de cabelo curto e cigarro com
piteira que se revelarem espiãs dos gangsters que se sentiam incomodados com
sua interferência. [Munisa recuperava cargas roubadas, desfazia sequestros e
devolvia às mães filhas amalucadas que achavam romântica a vida com bookmakers]. Isso deu a ele não poucos
inimigos e não menos marcas de longas unhadas, tanto das garotas que resistiam
ser levadas à força para casa como de paixão em momentos sexies [além, é claro,
das temporadas em hospitais depois de tiros].
Um filme e dois livros pretensamente
biográficos romantizaram a figura do detetive. Ao morrer deixou conselho: os tiras roubam e as mulheres mentem, não
sejam detetives. Isso, é claro, apenas acresceu charme à sua legenda.
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